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terça-feira, 21 de junho de 2011

HOTEL AMAZONAS VIROU CORTIÇO


 Foto: Paulo Onofre

“Quem te viu, quem te vê”. Esse trecho da música de Chico Buarque cai como luva em cima do mais belo e famoso Hotel que Manaus já teve. Isso nas décadas de 50 e 60, quando era cartão postal da capital do Amazonas.

Conhecido no mundo inteiro pelo conforto e padrão de bons serviços hoteleiros, o Hotel Amazonas foi, sem dúvida, um dos mais conhecidos hotéis brasileiros, atendendo principalmente, a demanda de turistas estrangeiros que vinham à Amazônia, atraídos pelo fator inusitado de se hospedarem num hotel construído no meio da floresta, como estava artisticamente espacejado nas peças publicitárias do mesmo.

A sociedade local também costumava freqüentar suas boates musicais, e o Mandy’s Bar era um point famoso de nossa capital, onde os freqüentadores se deleitavam sorvendo uma boa cerveja ou um amadeirado whisky de décadas de envelhecimento.       

Lembramos dos últimos estertores agônicos de sua derrota, quando já no final de suas atividades hoteleiras, era gerenciado pela competência administrativa quase desesperada de seu gerente geral, cujo nome me foge da memória, mas este dedicado executivo era o marido da dona Terezinha Bayman, uma lady negra, muito bonita e gentil, cujo sorriso mais parecia as espumas do rio Negro descendo para o Encontro das Águas, um outro poema que Quintino Cunha jamais conseguiria escrever.

Tudo isso foi embora. Aliás, Manaus das coisas boas das nossas vidas, também está sendo devastada. O que é bom, as coisas raras e sentimentais da alma boa do nosso povo, parece conformar-se em flutuar sem direção no fim do temporal. E como diz um poeta maldito: “Deixa a merda viajar em paz. Por que te perturbas tanto, amigo”?

É verdade, mas caboclo é assim mesmo. A gente sempre dá valor às coisas da terra.

Acontece que os outros não estão nem aí, para o que der e vier. Se Manaus perder a beleza de suas coisas sagradas, pouco importa para a canalha.

Por isso é que o Hotel Amazonas virou um cortiço, uma coisa terrível de se ver, o suntuoso hotel, mais parece uma capoeira de galinha surreal. Sim, aos seus pés, ali na ilharga da praça defronte de uma banca infernal de guloseimas, todas as tardes, o povo faz roda de fome, e come um anti-higiênico churrasco de gato com farofa. Aliás, sem brincadeira nenhuma, os gatos sumiram da praça Heliodoro Balbi, assim como o Hotel Amazonas sumiu de nossas     incrédulas memórias.    

Alexandre Otto,
É publicitário e escritor,
membro do Clube da Madrugada;
   

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