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segunda-feira, 6 de junho de 2011

Um hóspede entre o Inferno e o Paraíso

Alexandre Otto  - Escritor e fundador do Clube da Madrugada

(pequena crônica melancólica para Iranduba)

Quando saltei da balsa Boto Navegador, ainda meio atordoado com a fedentina terrível que exalava dos banheiros fétidos da embarcação, fratura logística que até hoje obriga o usuário das balsas a carregar nos pulmões aquele putrefato bafo do interno, mesmo assim pisei no solo verdejante de Iranduba, trazendo a tiracolo o Movimento Terceira Via, para ajudar o povo irandubense no exercício de sua cidadania e também ajudar politicamente algum candidato a prefeito do município dos sítios arqueológicos.
Assim, primeiramente conhecemos o Ednor Pacheco, que foi o melhor presidente que passou pela Câmara Municipal de Iranduba (CMI), segundo comentários populares, pois o mesmo construiu a nova sede da instituição, tendo como resposta amarga e insólita do povo, um não irreconhecível da população, que o procurava todos os dias às centenas para pedir-lhe benesses e favores. E o Ednor dentro das suas limitações presidenciais, atendia essas pessoas, com aquele sorriso amigo de sua careca bondosa e reluzente.
‘Amor com amor se paga’, mas a população entendeu que a Câmara era muito pequena pro Ednor, e que um dia ele seria prefeito de Iranduba, quem sabe? Uma coisa é certa, como Deus, o povo escreve certo por linhas tortas, e eu acredito que o nosso Ednor, num futuro próximo, será inevitavelmente prefeito. Basta se candidatar.
Pois bem. Logo em seguida conversamos com o Chico Doido lá na Fundação do Modesto, quando acertamos com o mesmo a parceria à eleição que não deu certo, pois o Chico saiu com outros parceiros, que infelizmente trouxeram-lhe a derrota. E ele era o grande favorito eleitoral.
Aí fechamos com Nonato Lopes uma coligação tecnológica de militância. E eu comandei a Terceira Via em Iranduba, com militantes eleitorais, quando vistamos mais de 6.000 residências, além do povo do Lago do Limão e Jandira, como também Cacao e Mutirão.
Observei que o Nonato tinha muitas obras e o povo não sabia disso, nem a coordenação de sua campanha (sic). O Benayon que era o coordenador geral da Terceira Via, fez um jornal mostrando o trabalho do Nonato, como o maior prefeito do interior do Amazonas. E eu fui de casa em casa com nossos militantes, mostrando pro povo essa verdade, e foi assim que derrotamos o Chico, cuja eleição era certa, pois além de ser o líder do povo irandubense, era o favorito nas pesquisas.
Mas apesar do gigantesco trabalho do Nonato, faltava muita coisa ainda na cidade, por exemplo, bem ali na cara da prefeitura, a Praça dos Três Poderes, continua até hoje completamente abandonada, apenas com alguma “maquiagem de resíduos”. Um absurdo, e bem no coração da cidade.
A casa do Idoso era outro descaso também no abandono.

Quanto à educação, fiz uma entrevista com uma jovem que tinha segundo grau completo, e entreguei-lhe algumas perguntas sobre o que faltava na sua cidade. Pasmem! Ela respondeu por escrito exatamente com estas palavras:
“FALTA TAPAR OS BURACO E COLOCAR LUZ NOS POSTES”.
Depois dessa fratura terrível e incidental da educação no município, eu levei uma queda do telhado do Comitê da Terceira Via onde eu morava. Imóvel no chão e vendo estrelas, pela queda sofrida, fui socorrido pelas vizinhas (uma senhora de idade muito distinta e uma moça linda, que me levantaram do chão, e me levaram até o Posto de Saúde. Chegando lá, fui medicado pela doutora presente, mas não pude tirar a radiografia, pois segundo a médica, o Posto não tinha esse loquaz recurso.
E fiquei uma semana, liso e doente, sobrevivendo à custa da senhora idosa que me dava o café e almoço, e da moça bonita que mandava o sobrinho apanhar um balde de água, para eu tomar agoniadamente o banho diário, pois a porrada foi seca e eu mal me mexia na cadeira de executivo onde eu dormia sentado. Se não fossem essas duas pessoas irandubenses, eu teria me lascado. O povo de Iranduba é bom.
Agora quanto aos políticos, só o Cristóvão me visitou. Pedi-lhe 500 pratas emprestados e ele me deu 30. Agradeci mesmo assim.
Todos sumiram. E eu fui o cara responsável pela vitória do Nonato. Sem eu no campo eleitoral, e o comando do Benayon, o 15 jamais teria ganho a eleição. Ando ainda com a minha bengala londrina, mas segundo o meu médico, daqui há um ano, eu vou larga-la.

Um meu amigo ex-senador replica: - Otto, não liga, eles sofrem de amnésia.

E eu que poderia estar morto, pois levei uma queda de 9 metros de altura e com 70 anos, converso aqui com a minha amante bengala, uma chinesinha adorável, e digo bem baixinho no ouvido torto dela: Isso até parece que foi paga do Chico Doido.
Por: Alexandre Otto
Escritor e fundador do Clube da Madrugada


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