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terça-feira, 20 de dezembro de 2011

MÍSTICA NUCLEAR



Texto: Evandro Carreira*
            O homem é um ser místico. Esta assertiva já constitui um axioma decorrente de um enigma palpável e irretorquível – A MORTE. O fenômeno da morte provocou, provoca e provocará no homem um impacto de catástrofe, enquanto ele não esvumar todos os escaninhos do núcleo atômico e celular, desvendando os segredos do microcosmo.
O cataclismo da morte o deixou, o deixa, e o deixará sempre aturdido e desarvorado, à procura de uma explicação consoladora, que se ajuste à lei indeclinável da sobrevivência do indivíduo, a ânsia insopitável de eternidade.
Discordo de Ernesto Renan e Max Muller, quando atribuem ao homem um instinto de crer. Acho que o instinto responsável pelo fenômeno místico é o instinto de sobrevivência, o desejo de permanecer vivo.
Quando a chama de bruxuleante do raciocínio que acendeu no psiquismo do pro-homem e, através do primeiro comportamento místico, quer tenha sido feiticista ou naturista, conforme Augusto Conte; quer tenha sido animista, conforme Hebert Spencer e Taylor; quer tenha sido, ainda, totêmico, conforme Durkheim; ele encontrou uma possibilidade de continuísmo, um agasalho para o seu desespero.
Desde então, tem percorrido múltiplos caminhos, guiado sempre pela imaginação e pela fantasia, construindo anjos que até hoje nos extasiam, haja vista o Bramanismo, o Hinduismo e Budismo com o Mahabharata, deslumbrando o espírito Humano, explodindo no Bragavad-Gita, o POLITEISMO GREGO, com a sua mitologia, profundamente humana e divina, relicário de toda inspiração literária do OCIDENTE, o MONOTEISMO de Akanaton ( AMENOTEP IV) que teria inspirado Moisés, o mais sábio, o mais inspirado de todos os homens, conduzindo o povo hebreu a 40 anos, por um caminho que poderia  ter percorrido em 40 dias, porém era preciso a lavagem cerebral do povo hebreu, intoxicando, viciado num politeísmo rudimentar. O FLOSSANTORUM do catolicismo, e por fim Espiritismo descortinando um DEMIURGO mais racional e coerente.
Porém, o enigma permanece – a MORTE – e a axioma se impõe – o miticismo – e se acrescem de um novo impacto - a Ciência.
Quando Lucrécio, no poema Natura Rerum, expôs as teorias de Epicuro, Demócrito e Lucrécio, estava lançando as bases do método experimental, que seria a grande obra de Francis Baycon, no alvorecer do século XVII. Desde então, a experimentação e a contra-experimentação passaram a ser base autentica do conhecimento humano. As técnicas se aprimoraram e, no século XIX, Darwin enuncia a Teoria da Evolução, derrubando todos os totens e tabus que o medo da morte clara na fértil imaginação hominídea.
No entanto, uma sedimentação cultural ultamilenar – que se inserira profundamente na herança social e genética -, ao ver seus ídolos pulverizados pela Ciência, sem que ela tivesse posto nada em seu lugar, a não ser o próprio Nada, caiu em desalento.
A Ciência dizimou as planícies do Nirvana, do Walhalla, do Éden e de todos os paraísos. Fez a Maiêutica, decantada por Sócrates, a incineração de todos os totens e tabus que povoaram o pensamento místico. Mas não ocupou o terreno conquistado e o terreno psíquico é do tipo que não pode ficar vazio, ou a loucura se encarrega de ocupá-lo.  
Talvez Augusto Comte não estivesse senil, quando propôs a sua Religião da Humanidade. Apenas não estava preparado, mas pressentiu que o positivismo seria sua ultima pá de cal na Metafísica. E o lugar que ela ocupara durante tanto tempo não podia ficar vazio.
É preciso encher este espaço com uma nova mística, a MISTICA NUCLEAR. Uma mística que se arrime na Ciência e não nos totens, tabus, dogmas ou abstrações.
O enigma da morte e o enigma da vida. Desvendar e mistério da vida e desvendar o mistério da morte.
O homem é um metozoário, somatório de trilhões de células unidades atômicas do ser vivo.
Ser vivo não e apenas o homem. A anatomia comparada, a psicologia comparada e a genética comparada, já provaram que o homem é o ápice da escala fito-zoológica, e o fenômeno vital, também ocorre nos unicelulares, com a mesma intensidade, talvez menos complexo.
A solução do enigma da vida não está na dissecação do HOMO Sapiens, porém, no anatomizar dos primeiros e rudimentares vagidos da vida, na célula, no átomo, no núcleo dos dois, onde universos infinitamente pequenos escondem os tesouros    e os segredos que assoberbam e alucinam os universos infinitamente grandes.
A mística nuclear tem por escopo a imortalidade aqui mesmo, cavalgando um táquion, de galáxia em galáxia, ou a imortalidade metafísica, como energia sutil que se interiorizou ao sabor da evolução fito-zoológico e se conscientizou e se personalizou nas circunvoluções cerebrais do ser humano, - última etapa do evolver hidroprotéico.
A morte, por enquanto, talvez seja a única porta capaz de libertar definitivamente a energia imponderável, inacessível, do tegumento material que a comportou e permitiu a sua visualização paras prosseguir na escala evolutiva, já, agora, ultradimencional, até o encontro com o ABSOLUTO. Até a absorção do TODO.
Por: *Evandro das Neves Carreira
Ex-senador da República

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