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quarta-feira, 30 de outubro de 2013

NOTAS DISSONANTES SOBRE A EDUCAÇÃO INDÍGENA UNIVERSITÁRIA




Ademir Ramos (*)
A secretária de Estado para os povos indígenas do Amazonas estará realizando na próxima quinta (31) e sexta-feira (1), a partir das 9h, no SINDIPETRO, na Rua Bernardo Ramos, 179, no Centro Histórico de Manaus, um Seminário sobre “os novos caminhos para consolidar as políticas afirmativas dos povos indígenas do Amazonas – possibilidades de praticar os conhecimentos, garantindo igualdade de oportunidade.” O evento prossegue o dia todo na quinta-feira, com duas mesas de discussão; a primeira “possibilidade de praticar os conhecimentos garantindo a igualdade de oportunidade”, a segunda proferida por mim diz respeito à “universidade enquanto espaço de formação qualificada e os povos indígenas a partir da realidade acadêmica exercida nos últimos anos,” na sexta-feira, somente pela parte da manhã, farão apresentação dos resultados e a leitura do documento final. Para o momento desenhei algumas notas, com propósito de ampliar a discussão e fortalecer as organizações de base, então vejamos:
A universidade é um território em disputa sob o controle do Estado, que por sua vez institui critérios de classe a favorecer o acesso e a permanência dos candidatos nas estruturas acadêmicas em consonância com a lógica do poder instituído, em sincronia com Brasília ou com os governos dos entes federados, que são os detentores dos recursos orçamentários de natureza impositiva, minimizando a autonomia acadêmica lavrada na Constituição Federal tão reivindicado pelos Movimentos Estudantis e Docentes. Nesta circunstancia seus dirigentes zelam muito mais pela estrutura funcional do que pelo processo criativo formador. Esta reprodução lógica do poder perpassa pela formação do professor que reproduz determinados ritos de seus orientadores (formadores) assentados no status da carreira acadêmica e dos interesses particulares de grupos encastelados nos Departamentos e Institutos de pesquisa e outros centros de formação.
No campo da ciência e da tecnologia o Estado orienta sua formação para o mercado produtor, em resposta as demandas reclamadas pela indústria e demais segmentos produtivos como se fosse uma reposição de peças necessárias para o funcionamento da engrenagem em processo. A produção de tecnologia requer investimento na ciência, na pesquisa, no aparelhamento de laboratórios com corpo técnico qualificado para criar e desenvolver processos e não somente o manuseio operacional dos equipamentos. Registra-se aqui o investimento que a própria empresa, no caso a Petrobras faz junto a sua estrutura para obter o grau de excelência, bem como outros centros de excelência, contando com apoio de empresa privadas e de agências internacionais, que usam as Universidades e os Institutos de Pesquisa no Brasil e nos Países subalternos como “barriga de aluguel”, expropriando conhecimento e formas de saber.          
         Neste contexto, a Universidade pouco ou quase nada tem contribuído para produção da ciência e as estruturas do pensamento quanto à concepção e transformação do mundo e da conjuntura em questão. Se isto for verdade, o padrão universitário de hoje é similar à cultura dos bacharéis caracterizada por uma cultura geral, uma retórica refinada com status de doutor e pose professoral, de pouca valia para as mudanças sociais, mas de muito valor para a manutenção e permanência do status quo.
Relativo à formação acadêmica dos indígenas nesse processo, o diferencial pode está no acesso por via de cotas, bolsas ou outra forma de concessão que favoreça a inclusão desses agentes nas estruturas acadêmicas. Às vezes necessárias para dar legitimidade a políticas indigenistas, assim como também na instrumentalização das políticas indígenas, em defesa de suas garantias comunais nas lutas do movimento e das organizações indígenas.
Contudo, esta determinação do sujeito que opera em favor do seu povo, não resulta da formação das academias, mas, sobretudo, da formação política adquirida no curso das lutas sociais e, em particular do movimento indígena.
Digo isto, para reafirmar a importância da formação política comunal, étnica, sindical, familiar, que antecede a formação profissional acadêmica, não havendo esta plataforma, o compromisso dos atores às vezes é ofuscado pelo carreirismo, preciosismo acadêmico com tempero dos cacoetes dos bacharéis seguindo a lógica do individualismo, da acumulação e do consumismo voraz. Com a palavra os próprios indígenas e suas organizações.

(*) É professor, antropólogo, coordenador do Jaraqui e do NCPAM/UFAM. 

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