O Amazonas foi celeiro de lideranças com reconhecido valor no cenário
nacional, políticos do porte de Arthur Virgílio Filho
Ademir Ramos (*)
O Amazonas foi celeiro de lideranças com
reconhecido valor no cenário nacional, políticos do porte de Álvaro Maia,
Arthur Virgílio Filho, José Esteves, Bernardo Cabral, Plínio Coelho, Chico
Queiroz, Homero de Miranda Leão, Jefferson Peres, Fábio Lucena, Gilberto
Mestrinho, entre outros, que se destacaram não só por sua oratória, mas pelas
habilidades no trata da coisa pública, manifestando compromisso e respeito ao
povo deste estado.
No passado esses vultos se destacaram, merecendo de
nossa gente toda forma de reverência e respeito pelo trabalho prestado à nação
e, particularmente, ao povo do nosso Amazonas. Hoje, a qualquer momento, quando
se fala em política partidária reclama-se a ausência de liderança apta a
representar os interesses da cidade e do estado, capaz de agregar em torno de
suas propostas e do seu próprio nome, valor que garanta benefícios diretos para
o Amazonas.
Se no passado era assim, no Brasil de hoje, a
Bancada do Amazonas no Congresso Nacional pouco ou quase nada significa,
considerando que no Senado Federal o líder do governo é o ex-governador Eduardo
Braga (PMDB). Por aqui quando passam esses cartolas da política cantam e falam
grosso, lá em Brasília ficam no “gargarejo”, de forma estática, negociando nas
Comissões projetos de duvidoso valor republicano em favor de grupos
corporativos empresarias.
Em disputa o privado e o público: Nesse cabo de guerra, o povo é
muito pouco lembrado, quase sempre em épocas eleitorais, onde os concorrentes
batem a porta dos eleitores com anedotários, fazendo-se de vítimas, para mais
uma vez obter do povo o aceite popular consagrado nas urnas.
A questão que não quer calar é compreender quem são
esses políticos e como eles foram empinados ao olimpo da política e por que não
corresponde a vontade popular. Em suma, qual a trajetória desses políticos e o
que os credenciou para merecer do povo o que é mais sagrada da Democracia: o
voto popular.
No passado eram feitos nas lides do Direito ou
abençoados pelos seus tutores políticos que os viam como seguidores dos seus
projetos. No presente, os fatos não são tão diferentes, o que alterou esse quadro
significativamente foi o peso dos meios de comunicação de massa, sobretudo, a
televisão, com a inserção de determinados atores em programa justiceiros e
messiânicos direcionados especificamente as camadas mais desassistidas de nossa
população.
A cultura de massa despersonalizou a política,
criando um campo de força em favor dos políticos de laboratórios, que não tem
projeto nenhum de base passando a praticar o populismo como regra para garantir
o voto de cabresto dos excluídos. Nesse cenário, o poderio econômico se
manifesta por meio das doações partidárias daqueles que colocaram ou prometem
disponibilizar os seus mandatos a serviços dos interesses privados e das Igrejas.
O jogo tem sido cada vez mais pesado, exigindo dos
candidatos programáticos participação mais seleta se assim quiser se afirmar
nesse cenário eleitoral. A população aumentou, a desigualdade social tornou-se
cada vez mais perversa, a educação do povo pouco nada contribui para um
julgamento justo com avaliação de programas e conferência das propostas dos
candidatos, os partidos viraram moeda de troca em favor de políticos que buscam
se beneficiar do somatório dos horários eleitorais, a classe média sem outro
meio sustentável depende unicamente do erário público para garantir seu status
social, os meios de comunicação com pouco ou nenhuma autonomia nada fazem para
alterar o quadro, as opiniões em disputas são muito mais dogmáticas do que
políticas, comentando muito mais as regras ortográficas do que o significado do
texto, que é o modus operandi do governante no exercício do poder do
Estado, da Prefeitura, do Parlamento e do Poder Judiciário.
Se o presente é duvidoso imaginem o futuro do nosso Amazonas se depender do
porte das lideranças que atuam no campo da política do estado. O futuro requer
redimensionamento do Polo Industrial de Manaus, de investimento em logísticas
em suas diversas frentes, capacitação, inovação e domínio de tecnologias da
informação, qualidade de gestão pública e privada, destacando o processo de
ordenamento político e jurídico da capital, dos municípios e do estado como um
todo.
Com ressalvas, o povo do Amazonas ressente-se de
lideranças políticas partidárias capazes de assumir compromisso com sua gente,
visto que atualmente no Congresso Nacional e nos Parlamentos do estado e do
município os atores eleitos vinculam-se mais aos interesses paroquiais do que a
política como cimento capaz de consolidar a construção de um projeto
republicano. Fato esse que passamos a exigir tanto do governador do estado, do
prefeito eleito, das mesas diretivas da Câmara Municipal e da Assembleia
Legislativa do Estado.
Para a consecução desses objetivos é importante que
as comunidades e a sociedade civil participem efetivamente por meio do
movimento social, das organizações populares, liderança estudantis, em parceria
com o Ministério Público, dando visibilidade dos seus atos através dos meios
formais de comunicação e/ou das mídias sociais. Se assim fizer estaremos não só
exercendo a cidadania, como também o equilíbrio entre os poderes, fazendo valer
a justiça distributiva para o bem-estar social e ambiental do povo do Amazonas.
(*) É
professor, antropólogo, coordenador do Projeto Jaraqui e do NCPAM/UFAM.