Josias de Souza
Num instante em que a penitenciária da Papuda virou
um puxadinho da política e o excesso de denúncias parece dividir os partidos em
dois grupos —o dos sujos e o dos mal lavados — Aécio Neves declarou: “Eu vou
falar muito sobre ética durante a campanha.”
Na noite passada, o presidenciável tucano jantou
com um grupo de jornalistas no Piantella, tradicional casa de repastos de
Brasília. Recordou-se a Aécio que a reputação do seu PSDB está na bica de
descarrilar no escândalo do cartel de trens e do metrô de São Paulo. O
candidato tomou distância da carapuça.
“Se tiver alguém do PSDB que cometeu
irregularidade, que recebeu propina, se isso ficar provado, tem que ir para a
cadeia também”, disse. Indagou-se a Aécio se não receia que o caso interfira na
campanha tucana. E ele: “Só se for para quem está envolvido. Para mim? Zero.”
Aécio realçou que o caso do cartel paulista
frequenta o noticiário diariamente. A despeito disso, o governador tucano
Geraldo Alckmin, candidato à reeleição, “está liderando as pesquisas”. Por quê?
“Não é algo que contamine o Geraldo. Ele não é desonesto. Vou duas vezes por
semana a São Paulo. Não pega. Ninguém toca nesse assunto.”
E quanto ao chamado mensalão de Minas Gerais, que
aguarda na fila de julgamentos do STF? “Vamos esperar até que seja julgado.
Creio que muita gente pode se surpreender. Mas se alguém do PSDB cometeu
irregularidade, tem que ser punido.”
Aécio espetou o petismo: “Não vamos cometer o
equívoco do PT de acobertar, de transformar [julgamento] em coisa política.
Isso não tira um milímetro da minha autoridade para falar de ética. Vou falar.
Tenho 30 anos de vida pública. Se alguém do PSDB cometeu ato ilícito, vai
responder.”
Levado às manchetes pelo delator Roberto Jefferson
em 2005, o mensalão não impediu a reeleição de Lula em 2006. Tampouco tirou de
Dilma Rousseff a eleição de 2010. Acha que as prisões do generalato do PT podem
levar o eleitor a ter um comportamento diferente em 2014?, perguntou-se a
Aécio.
E ele: “Não haverá uma resposta eleitoral. Não é
porque petistas foram presos que o eleitor do PT deixará de votar no partido.
Mas [o caso] tira o discurso do PT.” Ante a observação de que Dilma também
poderia afirmar que não compactua com o malfeito, Aécio atalhou: “Será que ela
vai falar isso?”
Evocando o noticiário sobre o desagravo que o PT
fará aos seus presidiários no Congresso partidário que começa nesta
quinta-feira, Aécio emendou um par de interrogações: “Qual é o PT da Dilma? É o
PT que a homenageia ou é o PT que faz desagravo, inocentando politicamente o
pessoal do mensalão? Ela é refém de uma estrutura. Mas é bom que ela fale
também [de ética]. Se ela puder falar.”
Na opinião de Aécio, o eleitor ainda não está
interessado na sucessão. Olha para a disputa como quem vê um filme manjado. Por
ora, só enxerga Dilma, beneficiada pela superexposição do cargo e pelo excesso
de propaganda institucional. O eleitorado só vai reparar nos candidatos de
oposição na hora do tiroteio no saloon.
Pretende exibir o discurso ético na tevê já no início
da campanha? “Tem que permear a campanha interia”, respondeu Aécio. “Temos um
desafio. As pessoas querem mudança. Mas elas olham para o lado e ainda não
enxergam a mudança. Vamos mostrar que somos a mudança segura. E isso também
inclui falar de ética.”
A conversa de Aécio com os repórteres durou cerca
de duas horas e meia. Terminou pouco depois de meia-noite e meia. Descontraído,
o presidenciável do PSDB não falou apenas sobre ética. Vai abaixo um resumo do
que foi dito:
— O drama da oposição: “Nesse momento, você não tem,
nos meios de comunicação de massa, como fazer o discurso de oposição se
amplificar. Em 2009, nessa mesma época, o [José] Serra tinha 38%, 40% nas
pesquisas. A Dilma tinha algo em torno de 16%, 17%. A Marina [Silva], 6%. O
sentimento era de continuidade. Mas a Dilma só empatou com o Serra no final de
julho de 2010. Ela teve espaço na tevê aberta. Começou a vestir o figurino da
continuidade, de ‘mãe do PAC’, de ‘mulher do Lula’. Hoje, o sentimento é de
mudança. Isso não vai ser revertido. Será ampliado. A tendência é de que o
monólogo de hoje dê lugar ao contraditório. Vai se beneficiar quem tiver a
capacidade de vestir esse figurino da mudança.”
— Cenário de segundo turno: “Quem faz análise hoje prevendo
uma eleição de primeiro turno diz bobagem. A tendência de ter segundo turno
será crescente. Fui candidato à reeleição [no governo de Minas Gerais]. Isso
que está aí, para vencer no primeiro turno, é muito pouco. E quem for para o
segundo turno tem uma chance enorme de ganhar a eleição.”
— Fim de ciclo: “Estamos vivendo um fim de ciclo. Por quê? A
presidente fará uma campanha na defensiva. Será defensiva na questão da
economia, defensiva na questão das entregas [de obras]. Não tem nada
estruturante para ser entregue. A marca da ineficiência vai crescer durante a
campanha.”
— Mais Médicos: “É um ativo que eles têm. Mas não do jeito que
está: Mais Médicos, com menos dinheiro para a saúde. Queremos muito mais
médicos de qualidade. Vamos falar sobre isso. Queremos que os médicos cubanos
continuem no Brasil, que venham profissionais de outros países. Mas queremos
pagar diretamente para eles. Queremos pagar R$ 10 mil, não R$ 1.500. Eu
reformularia esse contrato. Não faria contrato de novo com essa Opas
[Organização Pan-Americana da Saúde]. Contrataria diretamente os médicos que
quisessem permanecer no Brasil.”
— José Serra: “Vamos fazer do limão uma grande limonada, porque
o partido vai estar unido. Acho março um belo momento para nos apresentarmos,
dizendo com clareza qual o papel de cada um. Depois do Carnaval. Temos
conversado. Se ele estivesse viajando para falar bem do governo, me
preocuparia. Acho que soma. Não tenho dúvida de que estaremos juntos.”
— A acusação de que fez corpo mole na campanha de
Serra em 2010: “Isso é
uma lenda difundida por quem não acompanhou a campanha em Minas. Não tem
conexão com a realidade. O Serra ganhou em Belo Horizonte, contra a Dilma, que
nasceu na cidade. Por quê? Fiz telemarketing: ‘boa noite, aqui é o Aécio
Neves…’ Fomos ao limite das nossas forças. Se eu tiver em São Paulo o mesmo
empenho que tivemos em Minas, vamos ganhar essa eleição.”
— Se for ao segundo turno, está seguro de que
Eduardo Campos o apoiará? “Estou cada vez mais seguro, por uma razão lógica. Eduardo não conseguirá
fazer uma campanha que não seja de oposição. Não teria lógica. Economia, está
bom ou ruim? Não tem mais ou menos. Está ruim. Infraestrutura, como está?
Péssima. Se ambos estamos no campo oposicionista, se estamos negociando
composições nos Estados, creio que vai haver uma convergência natural. Nós,
naturalmente, apoiaríamos. Não vamos fazer isso porque acredito que estaremos
no segundo turno.”
— Decálogo: “Temos uma travessia no deserto para fazer. Vou
lançar na terça-feira (17) um conjunto de diretrizes. Vamos mostrar quais são
as questões essenciais. É mais do que um conjunto de princípios. É um conjunto
de prioridades.”
— Herança maldita: “A herança, para qualquer um que ganhar as
eleições será muito alta em 2015. Temos noção disso.”
— Nata do PIB: Participo nesta quinta-feira, em São Paulo, de um
jantar com cerca de 30 grandes empresários. Vou acompanhado do Fernando
Henrique, do Armínio [Fraga, ex-presidente do Banco Central], do senador
Aloysio [Nunes Ferreira] e do Antonio Anastasia [governador de Minas]. Na
semana passada, jantei com um grupo restrito de representantes do agronegócio.
Tive também um encontro com ambientalistas. Na segunda-feira, faremos outro
grande encontro com empresários do Rio de Janeiro, organizado pelo Armínio
Fraga.