Dilma
e Jô Soares que ganhou, nas redes sociais, uma reputação de "petista
fanático"
LÍGIA
MESQUITA
MÔNICA
BERGAMO
COLUNISTAS
DA FOLHA
Desde o fim da eleição presidencial de 2014, Jô Soares passou a criticar
em seu "Programa do Jô", na Globo, aqueles que pedem o impeachment de
Dilma Rousseff.
Suas posições no quadro "As Meninas do Jô", em que debate com
jornalistas, entre outras coisas, a política nacional, passaram a ser vistas
como "de esquerda" e o apresentador ganhou, nas redes sociais, uma
reputação de "petista fanático".
Na sexta (12), Jô entrevistou por 69 minutos a presidente no
Palácio da Alvorada, em Brasília. Seu programa marcou 7 pontos no Ibope na
Grande São Paulo, um aumento de 2 pontos em relação às quatro sextas-feiras
anteriores (cada ponto equivale a 67 mil domicílios).
Após a exibição da entrevista, Jô voltou a ser atacado pelo tom da conversa, tido
por críticos como ameno, e pela escolha da entrevistada. Ele falou à Folha:
Folha - Você
ficou chateado com as críticas?
Jô Soares -
Nem um pouco. Algumas delas foram tão impertinentes que até achei graça. As
pessoas têm o direito democrático de criticar. E eu sabia que as opiniões
ficariam divididas. Houve comentários muito raivosos e outros muito carinhosos.
Só tenho a agradecer as centenas de manifestações de carinho. As pessoas têm o
direito de falar. Todos têm o direito de se manifestar. Mas, para mim, mais do
que valeu.
Houve
críticas ao tom da conversa.
Não era um
debate. Era uma entrevista. Não cabia a mim rebater a presidente a cada
momento. Eu fiz as perguntas que precisavam ser feitas. Agora, se as respostas
não agradaram, o problema é de quem ouviu. Como escreveu o [ator] Otavio
Martins no Facebook, esse pessoal é capaz de querer a recontagem dos gols da
Alemanha [risos]. O que começou a me irritar foi essa conversa de "Fora
Dilma". Como? Ela é a presidente da República. Ela foi eleita. Ela não é
um técnico de futebol. O país está dividido, mas não é por isso que vou deixar
de entrevistar a presidente.
A entrevista
foi feita no tom que você sempre adota no programa.
Exatamente.
Sou jornalista também, desde 1963, quando trabalhei no jornal "Última
Hora". São 54 anos de profissão em que navego pelo humor, pelo jornalismo,
pelo teatro. Já entrevistei de Luis Carlos Prestes a Paulo Maluf, fazendo todas
as perguntas que um jornalista democrático deve fazer. O Lula foi ao meu
programa 13 vezes [antes de ser presidente].
Você
entrevistou outros presidentes no cargo também.
Entrevistei
Fernando Henrique Cardoso no Palácio do Planalto na época da reeleição. Todas
as entrevistas no programa sempre foram feitas em tom de cordialidade e
intimidade. Não é porque a Dilma está com a popularidade baixa que seria
diferente. Não tenho por que mudar o meu estilo. Nem vou deixar de entrevistar
a presidente do meu país porque ela está passando por um momento grave. E
queriam tanto ouvir a entrevista que não teve sequer panelaço. Foi uma recepção
sensacional.
Você
acompanhou a repercussão nas redes sociais?
Eu soube que
bateu recorde, foi "trending topic" [figurou nos assuntos mais
comentados do Twitter]. Isso é o que interessa. A prova de que eu estava certo
é que a entrevista despertou toda essa atenção.
O programa
vai deixar de entrevistar políticos por um tempo?
Não. Nunca
mudei meu programa e nunca vou mudar. São 26 anos fazendo entrevistas. E quero
dizer o seguinte: o programa retoma o seu ritmo normal nesta semana. Amanhã
teremos de volta as "Meninas do Jô".
Existe a
possibilidade de mudança de formato no seu programa para aumentar a audiência?
O programa
diminuiu em tempo, tenho uma entrevista a menos. Eu não sou pago para analisar
o que faço, sou pago para fazer. Em um programa de entrevistas, a única coisa
que muda é o entrevistado ou o entrevistador.
Neste ano,
demos uma enxugada em termos visuais [até o sexteto que o acompanhava
diminuiu].Tirando isso, o que interessa é o conteúdo. Meu contrato com a TV
Globo vai até 2016.
Antes de
entrevistar a presidente, falava-se nas redes sociais numa guinada à esquerda
sua.
Eu acho
graça. Tudo depende de quem estou entrevistando. Repito: se entrevisto um
tucano, sou petista. Se entrevisto um petista, sou tucano. É o mesmo equilíbrio
que a Folha tem.
O artista
não pode ter uma posição política no sentido intelectual. Tem que ser
anarquista. Intelectualmente, eu sou anarquista.