George Castro - Ex-diretor do
ensino médio e educação profissional – SEDUC/PA.
Caro
secretário,
Escrevo-lhe novamente após 55 dias da minha
primeira carta para tratar do mesmo assunto que me motivou a escrever a
anterior: a falta de respeito para com os profissionais da educação. Hoje me
encontro ainda mais indignado com a postura equivocada, intransigente e
autoritária de sua gestão.
Vou começar pelo que considero o mais
desleal, covarde e injusto de tudo o que o senhor tem feito desde a deflagração
desta greve: a campanha na imprensa a fim de desmoralizar os professores desse
estado e seu movimento legítimo. Movimento este que não luta só para assegurar
o piso salarial e a manutenção da carga horária, mas luta acima de tudo por melhores
condições de trabalho para os profissionais da educação, que em última análise
são também melhores condições para os alunos.
Pergunto-lhe quanto foi gasto com toda essa
publicidade, em que uma boa atriz seguindo um texto com informações
descontextualizadas chegava as raias de ser convincente? Certamente foram
alguns milhares de reais. O que sem medo de errar seria suficiente para
equipar, ou até reformar, várias escolas.
O que o senhor talvez não contasse é que toda
essa mobilização que envolveu televisão, rádios e jornais, perdeu para o que há
de mais veloz hoje em comunicação: as redes sociais. Através delas a sociedade
ficou sabendo da verdade e em nenhum momento ficou contra os professores. Pelo
contrário, houve manifestações de apoio de alunos e pais. Mas isso certamente o
senhor não viu ou seus assessores não fizeram chegar até o senhor.
Deve-se admitir que também houve excessos de
alguns integrantes do comando de greve, fatos lamentáveis que não há como
defender. Queimar uma ordem judicial, por exemplo, foi algo desnecessário e que
em nada acrescentou para o movimento grevista. Afinal, a justiça pode, e deve,
ser questionada, mas tem de ser respeitada.
Contudo, nada supera suas atitudes e de sua
equipe: compactuar com quem ofendeu os professores chamando-os de vagabundos e
trapaceiros, encerrar as negociações com o sindicato, garantir a população que
as aulas retornariam somente com professores contratados e sustentar a tese de
uma “greve política”, foram algumas provas da insensatez de sua gestão.
Mesmo com tudo isso, e não conseguindo
garantir o pagamento imediato do retroativo do piso e a manutenção de carga
horária, os professores já estavam dispostos a voltar às salas de aula,
pensando principalmente nos alunos do ensino médio que logo terão de enfrentar
o ENEM e nem começaram a se preparar.
Mas o senhor e sua equipe em mais uma manobra
impensada, que foi o desconto absurdo no mês de Maio, conseguiram o improvável.
Uniram todos os servidores novamente em prol da continuidade da greve.
Se pararmos para pensar foram muitos
desmandos em tão pouco tempo, secretário. Desde as suas lamentáveis entrevistas
às rádios e televisão até esse desconto desmedido que não livrou nem mesmo
aqueles que não aderiram ao movimento.
O senhor não tem noção do tamanho da crise
que o senhor instalou na educação desse estado. Antes de sua chegada
trabalhamos duro para estabelecer um canal de diálogo com todos: professores,
técnicos, diretores e gestores. Tentamos construir uma unidade entre os
servidores da educação para que o Pacto pela Educação do Pará fosse de fato um
pacto de todos. Houve muitos avanços nesse sentido.
Tomo a liberdade de dizer “trabalhamos”
porque fiz parte da gestão anterior e sempre procuramos dialogar com todos,
porque essa deve ser a premissa fundamental de quem faz educação. Conseguimos
muito apoio de professores e técnicos, pessoas que passaram a acreditar que as
coisas estavam começando finalmente a se ajeitar, gente que chegou a trabalhar
sem receber como os supervisores do pacto pelo fortalecimento do ensino médio
(PNEM) e os supervisores do programa do ensino médio inovador (PROEMI).
Infelizmente tudo foi por água abaixo. Sua
gestão conseguiu em cinco meses criar um mal estar tão grande, que ficará muito
difícil conduzir todos os projetos que são necessários para tirar a educação
desse estado da condição desfavorável que hoje se encontra. Para depois da
greve existe uma crise anunciada ainda maior, secretário. Infelizmente sua
pouca experiência em educação não lhe permite enxergá-la nesse momento.
Nesse contexto sugiro ao senhor que deixe
esse cargo e leve consigo toda sua equipe, secretários adjuntos, assessores e
agregados. Entregue a SEDUC a quem faz a educação básica no Pará, entregue-a
nas mãos de quem tem conhecimento técnico. Há no quadro da secretaria alguns
gestores que seriam excelentes secretários de educação, técnicos de carreira
que seriam excelentes secretários adjuntos. Dê a estas pessoas essa
oportunidade sugerindo isso ao governador.
Não sei o que o senhor pretende fazer quando sair
deste cargo, mas se tiver aspirações políticas sugiro que decline delas. Suas
possibilidades de se eleger a qualquer coisa se encerraram aqui, secretário.
Foram enterradas junto com as aspirações dos professores de terem melhores
condições de trabalho e o direito a poder usar seu tempo livre para aumentar
sua carga horária, em busca somente de uma vida mais digna.
Não lhe desejamos mal, mas definitivamente
seu lugar não é na secretaria de educação.
George
Castro
- Ex-diretor do ensino médio e educação profissional – SEDUC/PA. Supervisor do
Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio – PNEM. Professor da rede
estadual de ensino