O governador não bate direto, mobiliza terceiros para bater e depois consola a sua
vítima com mensagem de reconhecimento bem ao estilo de Al Capone que mandava
flores as suas vítimas.
Ademir Ramos (*)
Ele governador não bate direto mobiliza
terceiros para bater e depois consola a sua vítima com mensagem de
reconhecimento bem ao estilo de Al Capone que mandava flores as suas vítimas.
Eleito em 2010 pelo bloco de
Eduardo Braga (PMDB), o governador Omar Aziz (PSD) continuou fazendo juras ao
seu antecessor, prometendo executar o que o “seu senhor mandar”. Inicialmente,
nomeou apenas o seu gabinete seguido de outros agentes de pouca visibilidade,
sem mexer no secretariado do governo Braga. Às vezes de forma sorrateira
cancelava um empenho aqui outro ali sem afrontar o interesse corporativo
dominante.
Eduardo Braga, eleito senador viaja para
Brasília, prometendo voltar como candidato a prefeito ou ao governo do estado
em 2014. Antes de viajar montou um aparato local junto à mídia com apoio dos
seus auxiliares que continuavam aparelhados no governo Omar Aziz. E, por meio
das ondas do rádio, programa que mantém todos os sábados em rede para o
interior do estado, o ex-governador continuava anunciando as obras do governo
como se fosse o próprio governador, não satisfeito, convocava ainda o
secretariado do governo Omar para falar das obras e de seus programas como
marca de sua competência.
Se já era arrogante e truculento enquanto
governador depois de ser pinçado para a liderança do governo Dilma, Eduardo
Braga potencializou ainda mais está prática, afrontando até mesmo a família do
governador Omar Aziz. O seu comportamento lembra o modo político dos “coronéis
de barranco”, que quando chegavam aos municípios eram arrebatados dos barcos e
levados por seus favorecidos nos braços para mostrar o quanto eram aceitos pela
população local. O mesmo tem feito Eduardo Braga, no aeroporto de Manaus,
contando com o total apoio do secretariado de Omar Aziz.
A conjuntura começa a trincar quando o
ex-governador tentou emplacar um candidato à prefeitura de Manaus à revelia de
Omar Aziz. Neste momento, com a participação da primeira dama, o então
governador resolveu interferir nesse cenário indicando a deputada federal
Rebeca Garcia (PP), agindo do mesmo modo que o ex-governador, de cima para
baixo. O que na verdade não prosperou talvez por falta de empenho ou quem sabe
de caso pensado, acenando a favor do prefeito Amazonino Mendes (PDT).
O fato emblemático é a queda do secretário de
educação Gedeão Amorim. O governador Omar Aziz sabe da estreita relação do
Gedeão com o ex-governador, mas nunca fez nada para obliterar esta relação
quanto ao uso da máquina a serviço dos interesses do então senador. Ele
governador não bate direto mobiliza terceiros para bater e depois consola a sua
vítima com mensagem de reconhecimento bem ao estilo de Al Capone que mandava
flores as suas vítimas.
O banzeiro poderia ser menor se o governador
tomasse a frente e respondesse com determinação a composição do seu bloco
político. No entanto, é seu estilo esticar a corda fazendo crer que nada sabe e
nada vê. Esta prática de governar desestabiliza a ordem governamental
favorecendo a especulação e instabilidade no processo de gestão das política
públicas.
O modo de governar de Omar Aziz não difere
dos seus sucessores. Continua maculado pelo centralismo, pela corporação das
oligarquias, pela especulação imobiliária e pela redução do interesse público a
favor de grupos e outros arrivistas que tomam de assalto à economia do
Amazonas. O governo mudou de mão, mas as práticas oligárquicas continuam
ferindo a vontade do povo, excluindo parlamentares e lideranças populares das
decisões governamentais advindos da mesma escola dos feitores do passado.
Nessa farsa eles se repetem no poder
valendo-se do partido, coligações, poderio econômico e, sobretudo, da miséria e
ignorância do povo que eles mesmos plantaram e cultuam no formato de bolsas e
outras expedientes populistas. Mas, o banzeiro pode aumentar quando o povo
cansado de ser explorado se perceber como juiz capaz de julgar os feitos dos
políticos e de seus governantes afogando no ostracismo das águas do Rio das
Amazonas.
(*)
É professor, antropólogo e coordenador do NCPAM/UFAM.