Texto: Ellza Souza (*)
Aconteceu
uma Tribuna Popular no plenário da Câmara Municipal de Manaus onde foi lida
pelo professor e antropólogo Ademir Ramos, representando o Projeto Jaraqui, uma
“carta aberta aos vereadores” onde se proclama as necessidades da população que
são muitas.
O Projeto ou Comuna Jaraqui é um movimento
vindo das camadas populares e intelectuais que navega por essas águas há muito
tempo desde a década de 1970 com figuras como Roberto Vieira, Nestor
Nascimento, Mario Frota, Frederico Arruda, Conceição Derzi, Margarida Campos,
Evandro Carreira, José Maria Pinto, Ademir Ramos e outros. Deu uma hibernada e
agora volta a se reunir na Praça Heliodoro Balbi ou praça da polícia, aos
sábados, no lugar adequado para esse tipo de manifestação, ou seja, o coreto da
República Livre do Pina.
Ontem, 21 de novembro, aconteceu uma Tribuna
Popular no plenário da Câmara Municipal de Manaus onde foi lida pelo professor
e antropólogo Ademir Ramos, representando o Projeto Jaraqui, uma “carta aberta
aos vereadores” onde se proclama as necessidades da população que são muitas. O
movimento sentiu necessidade dessa mobilização para pedir providências urgentes
em prol da “cidadania e da ética”, coisas que estão em extinção no mundo de
hoje. Foi lembrado na tribuna por alguns vereadores, dos tempos do IEA
(Instituto de Educação do Amazonas que completa 132 anos de existência). Uma
turma de adolescentes da 6ª. série acompanhada de seus professores prestavam
bastante atenção e um deles de 11 anos de idade demonstrava curiosidade e me
fez algumas perguntas. Foi bem lembrado uma época em que esses temas faziam
parte da grade escolar e se levava a sério tais assuntos.
A sessão começou 9h18m e encerrou às 10h53
com alguns percalços. O som apresentava graves problemas. Parece que por ali
não se aprecia muito certos blá, blá, blás compridos e discursos trabalhosos.
Consertar Manaus de problemas acumulados por tantos anos não é uma tarefa
fácil. Mesmo iniciada a sessão com a “presidenta” da Casa Cida Gurgel, como os
seguidores da “presidenta” Dilma gostam de chamar, acompanhada por alguns
parlamentares e assessores mantinham conversas paralelas como o Fabrício Lima,
incomodando quem queria realmente ouvir o que se falava no local. Estavam
presentes além do falante Fabrício Lima, Waldemir José, Leonel Feitosa, Socorro
Sampaio, Carijó, Mitoso, Roberto Sabino, Lúcia Antony, Elias Emanuel, Glória
Carrate, Mário Frota (autor da proposta daquela tribuna popular). Apesar de ser
uma tribuna popular esqueceram de avisar o povo que não estava presente a não
ser do lado de fora com poucos manifestantes ligados ao sindicato dos
trabalhadores em educação do Amazonas fazendo suas reivindicações. Observei
depois de algum tempo de discursos uma certa impaciência numa das vereadoras:
“Vamo logo”. Ou seja acaba logo com isso. O som não estava nada bom e houve um
certo impasse com o vereador Leonel Feitosa reclamando algo em relação ao
painel soberbo do plenário e o seu custo de 1 milhão de reais. Mário Frota
também tem lá suas queixas pois considera vital para o processo democrático a
instalação de uma TV aberta onde tudo que se discuta no plenário deve ser
levado ao vivo para a sociedade, numa demonstração de amadurecimento político e
transparência. Pensando bem: 1.000.000,00 por um painel?
Excelentíssimos vereadores não teriam algo
mais útil onde gastar essa grana? Perguntem a seus eleitores que eles têm uma
lista de idéias melhores. Frota, em relação às mudanças de partido, diz que
alguns políticos vão de “unhas e
bagagens rumo ao poder” e considera o mensalão “o maior escândalo desde o
Cabral”.
A vereadora Lúcia Antony em sua fala disse
que fez o seu primeiro discurso público no coreto da praça na fase inicial do
Projeto Jaraqui e quer resgatar a história. Era uma época em que as
universidades eram o setor mais organizado da sociedade e defendiam a
democracia procurando a sua consolidação. E salienta: “O Projeto Jaraqui cumpre
o seu papel de combate à corrupção e terá todo o meu apoio”. “É preciso
enxergar o que precisa ser visto”. Nada de se fazer de “perseguido” e desejou
que “a nova fase do projeto vá além das aparências”, disse a representante do
povo manauara que acredita “não existir democracia se não houver um legislativo
forte”. Finalizou conclamando: “Cada brasileiro deve ser afiliado a um partido
político para defender suas idéias”. Para o Waldemir José esse é um debate onde
deve haver liberdade de expressão e os temas discutidos devem ir além da
corrupção. É bom lembrar que a corrupção desvia recursos públicos que poderiam
melhorar tudo que o Projeto Jaraqui e a sociedade reivindicam (educação, saúde,
moradia, merenda escolar, transporte público, segurança, saneamento e por aí
vai).
Foi lembrado pelo professor Ademir, o pior
exemplo de hidrelétrica do mundo que é a Balbina, que devastou muito e trouxe
pouca serventia ao setor energético. “Estamos na rua discutindo”, disse ele e
continuou: “Precisamos criar novamente os grêmios estudantis nas escolas”,
Professor da Universidade Federal do Amazonas, salienta o foco do movimento que
representa: “O Jaraqui está a serviço do povo” e “não se agacha (ou mergulha?)
perante o poder executivo”. O caminho é esse. A sociedade se organizando antes que
voltemos a um ponto que até o Cabral duvida.
(*)
É escritora, jornalista e articulista do NCPAM/UFAM.
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