O Recanto é
aconchegante reunindo sob sua aba os filhos da Amazônia, pois lá durante a
nossa estada, pudemos identificar acreanos, amapaenses, amazonenses e outros
filhos da floresta e dos rios que vivem e moram em outras paragens...
Ademir Ramos (*)
Na semana
passada movido pelas passeatas de protestos da juventude que vem sacudindo o
Brasil estivemos na capital federal e na quinta-feira (20), “a boca da noite”,
fizemos o nosso esquenta na Barraca do Pará, na Torre. O lugar está todo
repaginado, higienizado, digno para receber os convidados da Warlene, filha do
tio Waldir, nosso mestre do carnaval de Óbidos, a permissionária do recanto. O
reencontro foi temperado com tacacá, açai com farinha de tapioca ao gosto,
xarope e ou guaraná em pó – saiba que Óbidos também é uma referência no cultivo
do guaraná -, sendo que no sábado e domingo a pedida geral é o pato no tucupi e
demais iguarias de nossa terra sentinela.
Papo vem, papo vai e para “molhar as palavras” uma
boa cevada para equacionar a cafeína do guaraná e permitir a todos lembranças
da terra dos Pauxis, berço da nobreza paraense nas artes, beleza, cultura e
ciência, porque:
Óbidos, és minha terra,
Óbidos, és meu torrão,
Óbidos, estás inteira,
dentro do meu coração.
O Recanto é
aconchegante reunindo sob sua aba os filhos da Amazônia, pois lá durante a
nossa estada, pudemos identificar acreanos, amapaenses, amazonenses e outros
filhos da floresta e dos rios que vivem e moram em outras paragens, mas jamais
se esquecem de suas terras natalinas, dos personagens e ícones que povoam o
imaginário de nossa cultura amazônica.
Foi assim
que passamos as horas, lembrando os nossos mitos e fantasma que marcaram nossa
infância e juventude. Na foto: Warlene, à direita, Warlíbia, em pé e o autor
com Dona Maria Leonor, mais ainda Miriam Gorethe, no ofício de fotógrafa,
filhos da Dona Zolima e do mestre Azamor Piranha Ramos. Contudo, saibamos,
certamente que, segundo o nosso poeta Saladino de Brito:
Se nos livros encontramos a
ciência,
e nos mestres nós temos
esperanças.
é na alegre e sadia convivência,
que se funde a nossa aliança!
Papo vem,
papo vem e assim falamos do Círio e da Festa de Sant’Ana, dos mascarados do
nosso Carnaval de Rua, do Curro e dos deslocamentos dos bois da beira para o
Curro. O melhor ainda era quando um dos bichos se soltava ou a acorda quebrava
e ai começava a gritaria na busca de laçá-lo, deixando os comerciantes do em
torno em polvorosa.
A rua Dr.
Machado, a Prainha era só festa, tinha a Dona Maria Ramos que agregava em seu
estabelecimento a boemia da cidade, além de promover as festas juninas,
inclusive com mastro e pau-de-sebo. Vizinha a Maria Ramos morava também a
sedutora Tereza Muda que seduzia os marinheiros e os afoitos. Entretanto, se
falasse...
Na mesma rua
morava também a mulher que virava porca e também um dos devotos de São
Cipriano, temido por alguns por ter feito parte com o Diabo para ser rico. Da
minha parte tenho muito agradecer, pois, sua dedicação à leitura fez com que
sonhasse com a riqueza do saber, da cultura e da ciência.
O reencontro
com a Warlene e desta vez com a Warlíbia foi de uma alegria incomparável. Na
oportunidade, informamos que a Ana Maria e Alzemira, irmãs do autor, estão se
preparando para ir ao Círio e as Festas de Sant’Ana. Warlene lamentou
profundamente, pois se soubesse “teria adiada a minha viagem para Austrália
para reencontrar minha filha Vanessa.” Segundo ela, da Austrália deverá voar
com a filhota para a Ilha de Bali, na Indonésia, devendo conhecer um dos berços
da antropologia ocidental e as belas praias do pedaço. Mas, esta é outra
história, visto que se for convidado deverei participar das Quermesses de
Sant’Ana e renovar nossa devoção Mariana afirmando mais uma vez o quanto é
grande o nosso amor pelo berço dos Pauxis.
(*) É professor, antropólogo, coordenador do
Jaraqui e do NCPAM/UFAM.
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