A indignação
foi tanta que os professores silenciaram-se e resolveram comer com as mãos
protestando pelo desrespeito e assedio sofrido no processo de trabalho. A
partir desta data o fato ficou conhecimento como “Revolução da Colher”,
motivando os professores e professoras a se manifestarem contra esta e outras
formas de humilhação que os trabalhadores da educação sofrem.
Ademir Ramos
(*)
Recentemente, os Trabalhadores da
Educação participaram de um Movimento Nacional “Vem pra Luta” para acordar o
Brasil em defesa da valorização da Escola e de seus profissionais, cobrando dos
governantes e parlamentares a aprovação do novo Plano Nacional de Educação
(PNE), que assegure 10% do PIB para a educação pública, como também o
cumprimento do Piso Nacional e Carreira mais ainda, a hora-atividade, devendo
representar no mínimo 1/3 da jornada de trabalho do professor. No
Amazonas, os professores também foram às ruas em direção a Assembleia
Legislativa do Estado (ALE), onde realizaram no dia 30 de agosto (sexta-feira)
às 13h, Audiência Pública no plenário Ruy Araújo para discutir e encaminhar
questões referentes a combater o Assedio Moral nas Escolas e pela efetivação do
novo Plano de Cargos, Carreiras e Remuneração (PCCR), contemplando tanto a
promoção horizontal como a vertical, auxílio alimentação, plano de saúde e transporte
e melhores condições de trabalho com dignidade e respeito.
A manifestação dos professores provocou reação de
guerra da Casa Militar da ALE, que mobilizou o canil da Polícia Militar (PM),
mais 15 viaturas e 1 helicóptero do Agrupamento Aéreo da PM para recepcionar os
educadores. Para os líderes do Movimento constatou-se o total despreparo desses
profissionais no trato com os movimentos sociais. Visto que dias antes, os
militares da casa apreenderam os cartazes dos estudantes que protestavam contra
o deputado Ricardo Nicolau (PSD) acusado de superfaturamento em sua gestão à
frente da Mesa Diretora da Casa. O que os professores reivindicavam era o
acesso ao Plenário da Casa para afirmação de seus direitos fundamentais e ao
mesmo reafirmar sua pauta de negociação junto a SEDUC, em particular, no que
diz respeito à discussão e aprovação do novo PCCR a requerer aprovação da ALE.
Vencido a intolerância, os trabalhadores da
educação ocuparam o Plenário Ruy Araújo, sob a presidência do Deputado Luiz Castro
(PPS), e com a participação do Deputado José Ricardo (PT) passaram a relatar as
suas condições de trabalho e justificar a razão de sua em defesa de melhores de
trabalho, salário e dignidade.
Dos vários pronunciamentos que foram proferidos na
tribuna da Assembleia Legislativa do Estado é digno de nota o depoimento da
professora Mara Marcellino, da Escola Aldeia do Conhecimento. Mara é professora
de sociologia com 35 turmas, 45 alunos por sala, aproximadamente, concursada,
em estágio probatório pela manhã e a tarde trabalha regida pelo processo
seletivo. O controle é total. Ela, assim como outros colegas, passa o dia todo
na Escola e para economizar o pouco que ganha leva sua própria alimentação para
escola. Um desses dias esqueceu a colher e foi pedir para a escola liberar os
talheres para o almoço foi quando recebeu um sonoro “não” acompanhado da
seguinte explicação: ”as colheres é patrimônio da escola e se alguém surrupiar
a direção da escola tem que responder frente à SEDUC”. Em outras palavras: os
professores por serem mal pagos são os principais suspeitos pelos furtos
ocorridos no ambiente escolar.
A indignação foi tanta que os professores
silenciaram-se e resolveram comer com as mãos protestando pelo desrespeito e
assedio sofrido no processo de trabalho. A partir desta data o fato ficou
conhecimento como a “Revolução da Colher”, motivando os professores e
professoras a se manifestarem contra esta e outras formas de humilhação que os
trabalhadores da educação sofrem em seu lugar de trabalho, a perversidade é
tanta que mesmo o professor (a) morando nas proximidades da Escola é obrigado a
compartilhar sua carga horária, em outro estabelecimento sem nenhuma
consideração quanto à mobilidade e a racionalidade no processo de trabalho.
O Movimento pela Valorização da Escola Pública vem
crescendo em todo o Brasil, particularmente, em Manaus posicionando-se contra o
atrelamento do Sindicato e pela soberania do Poder Legislativo para decidir em
favor da Escola Pública e dos interesses populares. Os trabalhadores (as) da
educação querem diálogo, transparência e respeito para com a Escola,
valorizando seus profissionais e exigindo novos investimentos que resultem na
qualidade da educação tanto na capital como também do interior do estado.
(*) É
professor, antropólogo e coordenador do projeto Jaraqui e do NCPAM/UFAM.
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