O povo simplesmente
olha em volta e não vê na oposição quem assuma a sua demanda: dos insatisfeitos
com o modo como o Brasil é conduzido, 44% não têm candidato. Ou, pior ainda, o
povo não identifica a oposição como motor de mudanças.
Perto de 2/3 dos
entrevistados na mais recente pesquisa eleitoral do Ibope querem que o próximo
presidente mude "totalmente" ou "muita coisa" na maneira de
governar o País. Mas, no menos favorável dos cenários para Dilma Rousseff,
apenas 1/3 votaria em candidatos oposicionistas se a eleição fosse agora. Com a
agravante de que, só por uma mudança a esta altura inconcebível do quadro
sucessório, nenhum deles estará nas urnas eletrônicas em outubro do ano que
vem. São os adversários da candidata de Lula em 2010, José Serra e Marina
Silva, ele com 17% das intenções de voto, ela com 15%, indicando que devem a
sua relativa popularidade ao recall - a lembrança da eleição passada.
Já o cenário mais
provável é também o mais animador para Dilma. Ante o tucano Aécio Neves e o
socialista Eduardo Campos, ela subiu dois pontos da sondagem anterior, em
outubro, para a atual, em que aparece com 43%, acentuando o seu favoritismo e a
possibilidade de se reeleger no primeiro turno. A aprovação ao seu governo
também se sustenta. O senador mineiro continua onde estava, com 14%, e o
governador pernambucano caiu de 10% para 7%. O tropeço nem serve de alento para
Marina, que se filiou ao PSB quando não conseguiu registrar como partido a sua
Rede Sustentabilidade e há de guardar em algum recanto da "aliança
programática" com Eduardo Campos o sonho de vir a ser ela, afinal, a
encarnação da nova política que anunciam.
Isso porque, na
hipótese em que a ambientalista substitui o governador (e Serra toma o lugar de
Aécio), o seu desempenho sofreu em um mês um tombo de 6 pontos - de 21% para
15%. A razão só pode ser uma: Marina deixou a ribalta do noticiário, onde foi
parar ao aderir à sigla de Campos e onde parecia se firmar ao se tornar a
crítica mais audível da gestão Dilma, a ponto de carimbá-la como "retrocesso".
Superada, aparentemente, a fase de "sabor do mês" de Marina, o
eleitorado de que a amostra seria representativa voltou ao ponto de partida:
Dilma em viés de crescimento, Aécio estável.
À parte o fato
ofuscante de que 11 meses ainda separam os brasileiros do dia em que irão
exercer o mais importante dos seus direitos políticos - tempo de sobra, antes
de tudo, para reduzir às devidas proporções o prognóstico de vitória de Dilma
já na primeira rodada -, o que mais chama a atenção nos números do Ibope é o paradoxo
que deles emerge: de cada 10 eleitores que querem que muito ou tudo mude no
governo, 3 associam a preferência pela presidente ao seu desejo de mudança; ou,
dito de outro modo, de cada 10 "votos" de Dilma, 4 lhe foram dados
pelos mudancistas. E isso numa quadra do mandato da presidente em que sobressai
a sua incapacidade de promover mudanças - a não ser para pior.
Não se diga que o
povo é bobo. O povo simplesmente olha em volta e não vê na oposição quem assuma
a sua demanda: dos insatisfeitos com o modo como o Brasil é conduzido, 44% não
têm candidato. Ou, pior ainda, o povo não identifica a oposição como motor de mudanças.
O que os oposicionistas dizem e fazem está desconectado da população.
Anteontem, numa reunião em que os oito governadores do PSDB e o ex-presidente
Fernando Henrique declararam a céu aberto apoio à candidatura Aécio, ele
proclamou que o partido "está pronto no ano que vem (sic) para apresentar
ao Brasil uma nova proposta". O eleitor que espere, enquanto a presidente
toca a todo vapor a sua campanha.
Os tucanos deram ao
evento um nome - "Federação Já, Poços de Caldas+30" - que não
dispensa explicações. De um lado, trata-se de uma convocação, capaz de
sensibilizar somente os conhecedores, pela desconcentração fiscal do País. De
outro, não menos hermeticamente, alude ao encontro em que os então governadores
Tancredo Neves e Franco Montoro, na mesma cidade, deram a largada à campanha
das Diretas Já, em 1983.
Tamanha a distância
entre o que aglutina os tucanos e o que interessa ao cidadão comum, que a
sempre referida parcela não desprezível do eleitorado reage como se lesse na
bandeira oposicionista a inscrição "Nada a declarar" - e, abaixo, em
letras miúdas, "que você consiga entender".
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