Viajei
no navio do Snapp Jaime Moss, que chegou a Belém numa sexta feira de um mês
incerto e não sabido, de 1965, nessa eu época era funcionário da usina de
energia elétrica de Óbidos. O objetivo da minha viagem a capital era comprar
peças de reposição para o velho motor da usina geradora de energia em Óbidos.
Ao
chegar na capital do Pará, fui para a residência da Dona Maricota, obidense,
casada com seu Oscar, que durante muitos anos trabalhou em Óbidos como
barbeiro.
Na
segunda feira, acordei cedo e ouvi uma voz gritando: “Laércio, o café está na
mesa”! Uma vez já instalado decidi fazer uma pesquisa de preços das peças.
Segui então para a loja. No trajeto da avenida Presidente Vargas, encontrei com
o Zezinho Andrade, que - para os obidenses que não lembram - era o dono do Bar
Andrade. Conversamos sobre o assunto do momento, que era o recém Golpe Militar.
Foi
quando Zezinho disse: “Laércio vamos fazer uma visita a Dona Noca, esposa do
Dr. Alárico Barata, aproveitamos para tomar um café e conversar com Ruy Barata”,
contemporâneo de ambos na juventude em Óbidos.
Ao
chegarem na residência dos Barata, os visitantes foram recebidos com alegria,
pelo Dr. Alarico, que de pronto mandou servir um café e começou a indagar dos
visitantes notícias de seus amigos que moravam na cidade presépio.
Por
volta de 11:00h da manhã, a conversa foi interrompida pelo som da campainha, a
porta em seguida foi aberta pela empregada, foi quando adentrou no apartamento
o tenente Alacid Nunes, acompanhado por uma patrulha que deu voz de prisão ao
Rui Barata, como também a Laércio e ao Zezinho.
Após a
prisão Zezinho Andrade e Rui Barata, foram encaminhados ao 26º B.C., enquanto
Laércio foi encaminhado para a 4ª Guarnição de Segurança, que na época
funcionava nas dependências do Forte Castelo, em Frente a Igreja da Sé, em
Belém. Laercio, a partir do momento em que chegou no local, passou a ser
torturado, era espancado com cassetete nas pernas, braços e palma do pé. Apesar
de reiteradas vezes o torturado dizia, em alto e bom tom, que não era
comunista, mas a pergunta que era sempre feita: “então, o que você estava
fazendo na casa do comunista Rui Barata, seu comunista de merda?”
As
torturas eram feitas por um cabo do exército conhecido pelo codinome de “Peixe
Agulha” que ficou responsável pelo detento, este para satisfazer sua sanha e
sadismo divertia-se torturando o quase comunista Laércio.
Após 15
dias de tortura a pão e água, o detento recebeu uma visita do advogado Ferro
Costa que conseguiu relaxar sua prisão.
Enquanto isso, Zezinho Andrade, continuou preso por mais alguns dias, até que foi libertado graças a intervenção do Dr. Ferro Costa.
Enquanto isso, Zezinho Andrade, continuou preso por mais alguns dias, até que foi libertado graças a intervenção do Dr. Ferro Costa.
Por: Laércio
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Segundo
o relato de Laércio, durante a prisão de Ruy Barata, o que deixou indignado o
Alacid, foi que ao interpelar Ruy, perguntando se este era comunista, este
respondia afirmativamente, e que estava sendo preso por um ideal.
Após serem libertados Laércio e Zezinho, fizeram um pacto de jamais comentarem o assunto, quando chegassem a Óbidos, pois tinham medo de represarias.
Após serem libertados Laércio e Zezinho, fizeram um pacto de jamais comentarem o assunto, quando chegassem a Óbidos, pois tinham medo de represarias.
Esta
história também me foi contada por meu pai, “o Calango”, em 1980. Para aqueles
obidenses mais jovens, meu pai foi funcionários do Correio, em Óbidos na década
de 50 e 60.
Em
2011, fui passar o carnaval em Óbidos, durante o Carnapauxis, encontrei o
Laércio, ficamos horas conversando, pois, ele foi amigo de infância de meu pai.
Lembrei da história e pedi que me contasse verdadeiramente o que aconteceu, daí
este relato que faço, para inclusive ficar registrado na história a saga dos
nossos conterrâneos. (Por: Paulo Onofre).
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