Reportagem visitou aeroportos de
São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba e Salvador
BBC BRASIL.com
Obras no aeroporto de Salvador, a poucos dias da Copa do Mundo
Foto: BBCBrasil.com
20 de
maio de 2014 • 06h50 •
atualizado às 07h41
"Senhores passageiros, sejam bem-vindos a São
Paulo! Acabamos de pousar no Aeroporto Internacional de Guarulhos, são 19h em
ponto, a temperatura externa é de 20°C." Após ouvirem essa mensagem no
alto-falante, os passageiros do voo recém-chegado de Curitiba na sexta-feira à
noite, 9 de maio, começaram a se preparar para descer do avião.
Alguns minutos depois, porém, veio o aviso que os
manteria sentados na poltrona da aeronave por mais uma hora. "Senhores
passageiros, pedimos um pouco de paciência a vocês. Estou vendo aqui pelo menos
oito aeronaves aguardando vaga para estacionar, então teremos que aguardar a
autorização para o desembarque", disse o comandante.
A reportagem da BBC Brasil estava neste voo e
acompanhou a mudança de humor dos passageiros, que foram ficando impacientes
com a demora para sair do avião. Somente às 20h05, a aeronave foi liberada e
eles puderam pegar o ônibus para a área de desembarque. Para quem precisou
pegar táxi para casa, no entanto, a espera continuou na fila do lado de fora do
aeroporto, onde centenas de pessoas aguardavam uma corrida.
Segundo a GRU Airport, concessionária que gere o
aeroporto de Guarulhos, o problema lá foi "pontual". Sobre a espera
pelo táxi, a empresa explicou que está em negociação com a Prefeitura de
Guarulhos (que regulamenta o serviço) para aumentar a capacidade de
atendimento.
Mas a experiência desagradável em Guarulhos,
principal porta de entrada para turistas no país, não foi a única vivida pela
BBC Brasil em recentes viagens para seis das 12 cidades-sede da Copa do Mundo.
Saiba Mais
Segundo o Ministério da Aviação Civil, ela faz
parte do processo de "transição dos aeroportos brasileiros para o século
21" - um processo que incluiu reformas e grandes reformulações nos
principais aeroportos do Brasil visando atender à demanda não só do Mundial,
mas do próprio país, que tem se tornado um destino mais procurado no turismo
internacional.
"Nós vamos entrar em um novo patamar da
estrutura aeroportuária brasileira. O esforço que estamos fazendo é no sentido
de colocar os aeroportos brasileiros no século 21, do ponto de vista de
operação, de tecnologia, de gestão", explicou o Ministro da Aviação Civil,
Moreira Franco, em entrevista exclusiva à BBC Brasil.
Atraso de mais de três horas em Porto Alegre, um
barulho ensurdecedor de obras em Belo Horizonte, tapumes por todos os lugares
no Galeão (Rio de Janeiro), espera de horas por um táxi no Santos Dumont
(também no Rio), mais obras em Curitiba e em Salvador, foram alguns dos
problemas constatados pela reportagem em visitas recentes a essas cinco
cidades-sede do Mundial.
Em Belo
Horizonte, passageiros convivem com as obras
Foto:
BBCBrasil.com
Na segunda-feira, uma forte chuva que caiu em
Manaus derrubou parte do teto do aeroporto Eduardo Gomes causando vários pontos
de alagamento. "Nossos aeroportos ficaram muitos anos sem nenhuma
intervenção física e agora nós estamos correndo contra o tempo para colocá-los
de novo na lista dos melhores aeroportos do mundo", disse Moreira Franco.
As intervenções físicas mencionadas pelo ministro
começaram a ocorrer nos últimos anos como parte da preparação do Brasil para a
Copa do Mundo. A menos de um mês do início do Mundial, porém, a maioria delas
ainda não foi entregue, e alguns problemas expostos na infraestrutura
aeroportuária das cidades-sede do torneio levantam novamente a questão: os
aeroportos brasileiros estão prontos para receber o Mundial?
O Ministro da Aviação Civil garante que o País
atenderá tranquilamente os 600 mil turistas estrangeiros esperados durante a
Copa do Mundo - além da demanda nacional. "Vamos estar preparados para
atender à demanda, essa é a garantia que eu tenho", disse. "Nós
teremos condições de garantir um atendimento, não o ideal, mas um atendimento
adequado para os turistas que vierem ver os jogos."
Problemas
Entre os aeroportos visitados pela reportagem - São
Paulo, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Porto Alegre, Curitiba, Rio de Janeiro
e Brasília -, o caso mais crítico foi o da capital mineira. Lá, a obra de ampliação
do saguão do aeroporto acontece no mesmo ambiente em que os passageiros chegam
para fazer o check-in e despachar as malas. O barulho da construção é tamanho
que é difícil entender as orientações dos próprios funcionários do aeroporto.
Em entrevista à BBC, o secretário da Copa de Minas
Gerais, Tiago Lacerda, reconheceu que a situação do aeroporto de Confins não
causará boa impressão a quem desembarcar na cidade.
"Claro que no primeiro momento, a impressão do
turista não vai ser boa. Ele tinha que ser recebido com tapete vermelho. Mas a
nossa intenção é reverter esse quadro na hora que ele pisar para fora do
aeroporto", disse o secretário, que citou a "ineficiência de
gestão" por parte da Infraero como principal motivo do atraso.
Não foi somente o aeroporto de Confins,
administrado pela Infraero, que teve problemas para entregar as obras
planejadas para a Copa do Mundo dentro do prazo. Dos aeroportos que estão sob
responsabilidade da estatal, nenhum ficará completamente pronto antes do
Mundial. A principal justificativa para o atraso foram as dificuldades com a
burocracia das obras.
"Como estatal, a Infraero precisa passar por
uma série de etapas para executar esses empreendimentos - planejamento,
licitação de projetos, licenças ambientais, licitação de obras, avaliação por
parte dos órgãos de controle etc.. Em algumas dessas etapas, ocorreram alguns
percalços que atrasaram a efetiva realização do empreendimento", explicou
o presidente da Infraero, Gustavo do Vale, à BBC Brasil.
Além das obras, outro problema constatado pela
reportagem foram os atrasos. Um voo de São Paulo para Porto Alegre marcado para
segunda-feira, dia 5 de maio, logo pela manhã, por exemplo, atrasou mais de
três horas. O motivo? A neblina que fechou o aeroporto Salgado Filho das 7h às
10h para pousos e decolagens.
O problema é recorrente na capital gaúcha, onde o
aeroporto foi construído em uma área baixa, bem suscetível à neblina. A solução
encontrada foi providenciar um equipamento chamado ILS (Instrument Landing
System) que permite pousos e decolagens mesmo em condições climáticas adversas.
Até aquele dia, o aparelho ainda estava em fase de testes e os pilotos não
tinham autorização para utilizá-lo. Segundo a Infraero e a Anac (Agência
Nacional de Aviação Civil), porém, o uso do ILS está garantido durante a Copa.
"A instalação do equipamento já foi concluída
e aprovada pelo Departamento de Controle do Espaço Aéreo do Comando da
Aeronáutica (Decea). No momento, a Infraero está providenciando os documentos
necessários para que a Anac possa concluir o processo de homologação nos
próximos dias", reiterou Do Vale.
Pronto
para a Copa
Apesar dos problemas, o governo federal garante que
os aeroportos brasileiros estão preparados para receber a Copa do Mundo da
melhor maneira possível. Para a presidente Dilma Rousseff, que inaugura o
terminal 3 do aeroporto de Guarulhos nesta terça-feira, os turistas encontrarão
uma excelente infraestrutura quando desembarcarem por aqui em junho.
"Garanto que os nossos aeroportos estão
preparados para a Copa do Mundo. Vamos receber todos muito bem. E os
brasileiros poderão ficar orgulhosos do Brasil que estamos construindo",
disse ao programa Café com a Presidenta, da Rádio Nacional.
Entre os aeroportos das cidades-sede com melhor
avaliação pelo Ministério da Aviação Civil estão os de Guarulhos, Recife,
Manaus, Brasília e Natal. Os casos mais preocupantes estão em Cuiabá, em
Fortaleza - onde, por conta do atraso da obra, será utilizado um terminal
provisório construído para a Copa - e em Belo Horizonte.
"Mesmo nesses dois casos, nós garantimos que
eles estarão preparados para a demanda. Está tudo planejado, tudo organizado.
Problemas ocorrem, é normal em grandes eventos, mas temos convicção de que tudo
ocorrerá bem", concluiu Moreira Franco.
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