Abel Alves é o 1º candidato ao Governo do Amazonas
entrevistado do ATUAL, e se apresenta ao eleitor como como a inovação
MANAUS – Abel Rodrigues Alves, de 74 anos,
chegou à redação do ATUAL, para esta entrevista, com um documento da Agência
Brasileira de Inteligência (ABI), que narra a passarem dele pelo crivo dos
militares em 1974. Com ligações com os partidos de esquerda à época do regime
de exceção. “Antes da eclosão do Movimento Revolucionário de Março de 1964, foi
um dos principais agitadores do nordeste brasileiro, e líder das Ligas
Camponesas, em Pernambuco. Durante o tempo em que foi interventor do Sindicato
Rural de També, fez comício incitando os camponeses a lutarem contra os
proprietários, a fazerem greve e a invadir os engenhos”, diz um parágrafo do
documento. Abel Alves fazia parte do governo de Pernambuco e pertencia ao grupo
de Miguel Arraes. Em novembro de 1964 teve prisão preventiva decretada e em janeiro
de 1967 foi condenado a 5 anos de 2 meses de prisão. Abel não chegou a ficar
todo esse tempo na cadeia, mas passou um ano e meio preso em um presídio do
Recife. O agora candidato ao Governo do Amazonas pelo Psol afirma que esses
fatos do passado são motivos de orgulho por ter combatido o regime militar. Com
a abertura política, em 1985, Abel Alves voltou à vida pública e participou
ativamente da política partidária no Amazonas, chegando a deputado estadual por
um mandato. A seguir, a entrevista com o candidato do Psol ao jornalista Valmir
Lima.
Candidato,
o senhor começou no PCB e hoje está no Psol. Por quantos partidos o senhor já
passou?
Foram vários. Mas eu quero fazer uma
ressalva: nenhum da direita. Todos os partidos pelos quais passei sempre foram
da esquerda, uns mais outro menos, mas todos de esquerda. A minha militância
política na verdade nem começou no PCB. Eu já fui para o PCB com 21 anos. Eu
fui eleito vereador em Tefé, com 18 anos, pelo PTB. Mas naquela época o PTB era
um partido que avançava, que queria mudança. Naquela época, o Plínio Coelho
(ex-governador do Amazonas) rompeu com o Álvaro Maia (também ex-governador) e
se elegeu, em 1954. Em 1958 eu fui candidato a vereador em Tefé, com 18 anos.
Depois, fui para o Acre e militei no MDB, fui candidato a deputado federal e
fiquei na segunda suplência. Quando houve a quebra do bipartidarismo
(Arena-MDB), como eu já tinha militado no PTB, fui ao Rio de Janeiro conversar
com o (Leonel) Brizola para fundarmos o PTB em Rio Branco (AC). O PTB não foi
pra gente, porque a Auzira Vargas ficou com a sigla. O Brizola foi para o PDT e
eu não quis ir. Aqui no Amazonas, eu comecei pelo PSB, junto com Arthur Neto,
Serafim Corrêa, Félix Valois, Beth Azize, e, disputamos eleição pelo Muda
Amazonas. Em 1986, fui eleito (deputado estadual). Já no final do mandato, o
companheiro Arthur tinha muita simpatia pelo Mário Covas, que havia saído do
PMDB e ido para o PSDB, me convidou para ir para o PSDB. Vatamos no Mário Covas
no primeiro turno, mas eleições de 1989, e no segundo turno, votamos no Lula.
Do PSDB eu saí, namorei o PSB, mas fiquei no PT e disputei a eleição para
vice-prefeito de Tefé, junto com o Sidônio Gonçalves. Eu tive problema no PT,
saí e hoje estou no Psol.
Os
partidos são todos iguais no trato com seus membros?
Não. São diferentes, embora muitos partidos,
principalmente da direita, sejam cópias fiéis uns dos outros.
Por
que o Psol não se coligou com nenhum partido?
São umas coisas internas que a gente não
pode, lamentavelmente, levar a público certas conversas que nós tivemos. Nós
conversamos com o PCB, e estava tudo certo, até três dias antes da convenção do
PSTU. Quando foi no dia da convenção do PSTU, o companheiro Navarro rompeu o
compromisso e até nos acusou de “paraquedista”, e eu dei uma satisfação para a
sociedade. Mas o PSTU, o PCB e o Psol estão coligados em outros Estados. Em São
Paulo, por exemplo, que é o maior colégio eleitoral, estão coligados.
A
impressão que fica é que esses candidatos que ganharam o apelido de “nanicos”
estão ali só porque há uma janela e eles querem aparecer na janela. Até hoje,
Luiz Navarro e Herbert Amazonas só serviram para aparecer na janela durante a
propaganda eleitoral. O senhor é diferente desses candidatos?
Sou diferente. Sou diferente porque eu vim
como candidato pra valer, porque o momento é esse. A gente vê a população que
quer mudança, mas nós não queremos só mudança. Também queremos inovação.
Renovação é pra quem já foi. Ele renova alguma coisa que já foi feita, e pouco
feita. Nós não. Nós queremos inovar. Queremos mudar com inovação, no modo de
governo, tratar bem o povo, respeito ao dinheiro público. É isso que nós
queremos. Eu sou uma candidatura diferente. Agora, eu não me jacto como o único
candidato disso, porque tem um candidato aí de certa sigla que acha que ele é a
renovação. Se ele é a renovação, eu sou a inovação. Ele renova, que nunca fez
nada, e eu inovo, porque nunca tive oportunidade e quero fazer.
O
senhor não tem o sentimento de que está aí só para participar da eleição? O
senhor pensa em ganhar?
Eu penso em ganhar. Não penso só em ganhar…
Com
o voto de quem?
Com o voto do povo. Com o voto do povo.
E
como o senhor vai convencer esse povo a votar no senhor?
Vamos convencer, sabe como? Conversando com
as pessoas. Você sabe que não há melhor emissora do que aquela de beira de rio,
de beira de lago, que o caboclo vai levando pra cá e pra lá. E depois tem o
seguinte: nós temos uma arma potente aí que é a rede social. Hoje eu tenho
quase certeza que já sou se não o terceiro candidato aí nas pesquisas. Por quê?
Porque eu tenho uma história. E quando eu digo que sou candidato ou amigos meus
dizem que estou na disputa, as pessoas dizem: “eu já tenho opção pra votar”.
Porque pelo que se vê, a população não quer votar nesse pessoal que tá aí. E
digo mais: tanto é verdade, que conheço profissionais que estão com essas duas
siglas que acham que vão disputar o primeiro o segundo lugares, que não votam
neles.
E
como vocês pretendem usar o espaço da televisão? Quantos minutos de TV vocês
vão ter para apresentar suas propostas?
Até dia 16 o TRE está decidindo o tempo de
cada um. Mas a gente deve ficar com 1 minuto e 45 segundos. Isso é muito tempo.
Nós vamos dividir esse tempo em blocos para deputado estadual, federal e
senador e vamos ficar com a maior parte.
Conteúdo
e produção, como vai ser? Vocês têm uma produtora para fazer os programas?
Nós temos uma produtora artesanal, mesmo
porque não temos muito dinheiro para contratar um desses estúdios sofisticados.
É uma produtora de uma pessoa amiga da gente, que já trabalhou com a gente em
outras eleições, inclusive em Tefé, mas que não tem estúdio. Vamos fazer esse
serviço com qualidade, com muita qualidade. Nós temos que ter conteúdo, dizer
em 30 segundos o que eles dizem em 3 minutos. Mas estamos fazendo uma coisa bem
centrada, com muito conteúdo.
Quanto
o senhor e o partido vão ter para gastar na campanha?
Para a campanha a governador, o limite é de
R$ 950 mil, mas eu acredito que nossa campanha vai ficar nos R$ 250 mil. Não em
dinheiro, apenas, mas contando com as contribuições. A letra do meu jingle, por
exemplo, foi uma contribuição de um companheiro. Uma letra de campanha, hoje,
não está menos do que R$ 2 mil, R$ 3 mil. Carros de som, nós vamos ter alguns
que as pessoas vão ofertar. Então, eu acho que de dinheiro mesmo vai ser muito
pouco. Só mesmo aquilo básico mesmo, que não se pode fazer, como por exemplo,
comprar água fiado.
O
senhor vai ter condição de visitar o interior do Estado durante a campanha?
Vou.
Mas
para isso tem que ter dinheiro.
Meu irmão tem um barco.
Mas
se o senhor for de barco não visita nem metade dos municípios.
Visita. Eu visito pelo seguinte: eu mando uma
semana o barco para Tabatinga. Aí, vou de avião para Tabatinga e desço de
barco, porque você sabe que descendo de barco é rápido. Pra tudo tem um jeito,
quando se trabalha com o coração, quando se ter um ideal, uma utopia.
Qual
é a proposta de governo que o senhor acha que vai convencer o eleitor a votar
no senhor?
A decência, a ética, as mãos limpas. Eu não
tenho processo, Valmir. Os políticos e muitas pessoas no Amazonas se lembram do
meu mandato. Eu fui eleito o melhor deputado, fui eleito o orador do ano, fui
eleito legislador do ano, fui eleito o melhor constituinte. Então, eu tenho uma
história. As pessoas sabem quem é Abel Alves. E temos o nosso candidato a
vice-governador que é um jovem, o Mário Lúcio, foi presidente da Uesa (União
dos Estudantes Secundaristas do Amazonas). Então, nós estamos usando esses dois
pesos. A experiência e a militância política minha com a juventude que está aí.
Esse rapaz, que eu saiba, nunca foi candidato. Então, ele é que vai exatamente
trazer essa parcela de jovens para que nós possamos alavancar e ganhar essa
eleição. Nós precisamos primeiro ir para o segundo turno e, depois, ganharmos a
eleição.
A
ética e a decência é uma coisa que todos os candidatos pregam, e de fato, não
se trata de uma proposta concreta na administração do Estado, mas de um
comportamento do candidato.
Sim, isso é um pressuposto. Ética, decência,
honestidade são pressupostos. Esse pessoal que tem processo, que já meteu a mão
no dinheiro público não devia nem ser candidato. Infelizmente, nós somos
lenientes.
Além
desse pressuposto, o senhor tem propostas concretas para apresentar ao eleitor?
Nós temos cinco metas. Não vamos fazer aquele
programa imenso na campanha. No nosso programa nós apresentamos a forma de
governar. Nós vamos implantar no governo, quando eleitos, uma forma de governar
diferente. Vai ser uma forma participativa. O nosso lema é: O Amazonas soberano
com o povo no comando. Nós vamos ter que ouvir o povo. Porque, veja bem: as
pessoas apresentam seus programas para cumprir uma formalidade legal. Eu não.
Eu não quero fazer isso. Eu tenho uma proposta real. Por exemplo, na educação,
não podemos ficar do jeito que estamos. Perseguição a diretores de escolas. Nós
queremos que as pessoas sejam livres, tenham mente aberta para fazer aquilo que
bem entender dentro dos conceitos de educação. Nós vemos nomeações em escolas
de pessoas por serem filiadas a um partido. Vamos acabar com isso. Existem
secretarias em que há pessoas que se sentem donas dos cargos. Vamos acabar com
isso. Não há mudança. Muda o secretário, mas só muda o secretario. Não se muda
a estrutura dessas secretarias.
Outra situação que estamos vendo com muito
cuidado é a UEA (Universidade do Estado do Amazonas). Estão construindo aqui a
cidade universitária e isso vai esvaziar o interior. Esse foi o único projeto
que as administrações anteriores fizeram de futuro. Agora, se você faz a cidade
universitária na Região Metropolitana de Manaus e não leva para o interior
determinados cursos, se não democratiza, o pessoal do interior vem todo pra cá.
E aí, continua o pessoal do interior abandonando suas terras, suas cidades e
suas famílias e vindo pra cá. Não concordamos com isso. Aqui já tem estrutura.
Qual a diferença de Iranduba pra cá? É melhor se dotar os polos, como Tefé,
Tabatinga, Parintins de condições melhores da UEA.
Na saúde, a mesma coisa, tem que
descentralizar. Temos que fazer hospitais de referência nos polos. Manaus não
aguenta mais.
Mas
todo candidato diz isso e ninguém faz.
Todo mundo diz, mas quem está dizendo agora é
Abel Alves. Não fazem porque tem acertos. Vamos à saúde e vamos também à
educação. Quantas faculdades temos aqui? Quantos colégios particulares temos
aqui? Quantos hospitais particulares, quantas clínicas particulares temos aqui?
Quantos planos de saúde temos aqui? Isso é uma plataforma do meu partido, o
Psol, para rever tudo isso.
O
senhor está dizendo que o governo não investe na saúde pública para favorecer
os hospitais particulares ou o setor privado?
Mas claro que favorece, porque eles prestam
serviço ao SUS. Você já viu algum hospital, alguma clínica falir aqui? Muito
pelo contrário. Por quê? Porque fatura em cima do SUS, porque o SUS não tem
hospitais. Então, nós temos que inovar. Bater de frente com isso.
A saúde no setor público também está
privatizada atualmente, com a contratação de cooperativas e empresas para fazer
atividade fim nos hospitais, que é o atendimento médico e de enfermagem. O
senhor pretende rever essa forma de contratação das cooperativas?
Vamos discutir isso tudo. É um outro
paradigma a nossa administração. Nós temos que ter é solução para o povo. Você
vai em qualquer hospital e tem gente sendo atendida pelos corredores, gente
morrendo, não tem lugar na UTI.
Sobre
a infraestrutura do Estado, o senhor tem alguma proposta?
Essa questão estruturante passa pela mexida
nas secretarias. Na educação, na saúde, no setor primário. O setor primário é
completamente abandonado.
Mas
quando eu falo em infraestrutura, eu falo de obras. Que obras o senhor acha que
é necessária ou imprescindível para o Amazonas se desenvolver?
Veja bem: o que um político que está
disputando o governo pode fazer? Eu não posso acenar para o povo com obras
mirabolantes. Não vou chegar e dizer que vamos fazer outra ponte sobre o Rio
Solimões. Estarei sendo leviano. Não sou leviano. Nós vamos ter uma equipe de
governo para fazer a reestruturação desse Estado.
Mas
a ponte sobre o Rio Solimões foi colocada no Plano Plurianual do Governo
Federal em 2013.
Foi colocado, mas quando eu assumir o
governo, vou dizer para a presidente Dilma que eu não quero a ponte, que o
dinheiro seja investido em outras prioridades. A ponte é só para satisfazer
quem tem carro. Mas você diz: “Ah, mas tem a produção”. Sim, qual é a produção
que tem ali? Você o setor primário… Tefé é a terra da castanha, mas não tem uma
usina de beneficiamento de castanha. Não se agrega nada. A castanha vem pra cá
in natura e aqui é que se ganha dinheiro. O Projeto Dendê, em Tefé, se gastou
US$ 16 milhões, que foi obra do governador José Lindoso, que foi o único que
olhou para o interior do Estado. Faliram o Projeto Dendê. As obras do Alto
Solimões, por exemplo, de estradas, de acesso para os agricultores. O dinheiro
sumiu, não se fez as estradas, e ficou por isso mesmo. Isso nós vamos mudar.
O
senhor como vice-prefeito de Tefé, o que fez? Ou o vice-prefeito não pode fazer
nada?
Fui vice-prefeito de Tefé numa péssima
decisão minha. Aliás, não foi nem minha, foi dos companheiros do partido. Vice
não manda nada. E houve um desencontro da figura do prefeito com a minha
figura. Eu pensava grande e ele pensava menor. E aquela política que se faz no
interior, de beneficiar um, beneficiar outro, fisiologismo, eu resolvi romper
com ele com um ano de governo. Mas veja bem: a coisa é tão ruim no interior que
eu preferi, em 2008 (nós nos elegemos em 2004), votar nele novamente do que
votar no outro candidato, porque o outro era pior que ele.
Como
o senhor montaria uma equipe de governo? Só com os militantes do Psol?
Não, negativo, negativo. Mesmo porque nós não
temos essas pessoas. O critério para convocarmos pessoas para trabalhar pelo
Amazonas, não é essa história de partidarizar a administração. Com a nossa Ufam
e com a nossa UEA, temos capital humano capaz de fazer isso. Técnicos
competentes para isso.
O
senhor pode fazer suas considerações e dar um recado ao eleitor.
Eu quero dizer o seguinte ao povo do
Amazonas: nós queremos dar oportunidade para o povo refletir. Ver o que foi
feito nesses 32 anos e ver se é possível uma mudança. Ver no que a vida dele
melhorou. Porque a nossa candidatura veio do interior para a capital. Ela vem
para resgatar o poder político do interior do Estado. Quando eu era deputado,
nós tínhamos 11 deputados que formavam a bancada do interior, e hoje só temos
quatro deputados interioranos. Nós queremos resgatar isso, não queremos mais
continuar como curral eleitoral. Nós podemos e temos força para que o interior
seja protagonista desse processo, porque os outros candidatos são todos de
Manaus.
(Fotos
de Valmir Lima)
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