A
EDUCAÇÃO QUE QUEREMOS É PROATIVA VISA À CONSTRUÇÃO DE UM NOVO SUJEITO SOCIAL
CAPAZ DE COMBATER A POBREZA QUE RESULTA DA EXPLORAÇÃO, ACUMULAÇÃO E DA
DESIGUALDADE SOCIAL, PRIVANDO AS PESSOAS DO ACESSO À CULTURA, A CIÊNCIA, AS
ARTES E A BELEZA.
No Amazonas participamos
efetivamente da mobilização e da organização da direção das Conferências
Municipais e Estadual de Educação, na perspectiva de contribuir com os debates
em Brasília, de 19 a 23 de novembro, no plenário da Conferência Nacional de
Educação: CONAE 2014, em atenção ao chamado do Ministério da Educação (MEC),
tendo a Frente o Fórum Nacional de Educação, como instituto legal e permanente,
criado por força da portaria 1.407/2010 com propósito de convocar, planejar e
coordenar a realização da CONAE 2014: O PNE NA ARTICULAÇÃO DO SISTEMA NACIONAL
DE EDUCAÇÃO: Participação popular, Cooperação Federativa e Regime de
Colaboração. Do Amazonas participarão da II CONAE mais de 60 delegados e
observadores.
A estratégia do governo federal
encontra-se afinadíssima com a política do Banco Mundial que: “No setor
social... vem dando ênfase especial à educação, vista não apenas como
instrumento de redução da pobreza, mas principalmente como fator essencial para
formação de ‘capital humano’ adequado aos requisitos do novo padrão de
acumulação.” (Tommasi; Warde; Haddad, 1998: p.30).
Por sua vez, a CONAE 2014,
regimentalmente, nomeou como objetivo geral: “Propor política nacional de
educação, indicando responsabilidades, corresponsabilidades, atribuições
concorrentes, complementares e colaborativas entre os entes federados e os
sistemas de ensino.”
A magia que emana desse ato
governamental delega a todos o poder de formular e decidir sobre a política
nacional de educação, indicando, atribuindo e complementando o que deve ser
feito para o pleno funcionamento dos sistemas de ensino nos entes federados. A
retórica invade a praça e o governo se qualifica como liderança carismática a
se manifestar através de acrobacias verbais contrariando os fatos, as
instituições e as Leis que regem a política de educação. Pois, se verdadeiro
fosse às propostas aprovadas na CONAE 2010, destaque para os 10% do PIB para educação
já teria sido convertido em Lei e o Plano Nacional de Educação (PNE) já estaria
em plena vigência. Mas, quando é conveniente faz-se referência ao Ato para dar
legitimidade à matéria.
A Conferência Nacional de Educação,
formalmente, tem somente valor de consulta pública como requer o Banco Mundial
na prática de seus projetos. Não tem valor deliberativo e muito menos poder de
Lei para fazer valer a vontade dos trabalhadores, parceiros e amigos da
Educação.
No entanto, este quadro pode mudar
se os atores organizados fortalecerem suas ações e se apropriarem do Fórum de
Educação como instrumento de formulação de políticas educacionais, bem como
instrumento de controle de políticas públicas, consolidando suas relações com
lideranças sociais, parlamentares e demais forças vivas comprometidas com a
construção de um projeto educacional capaz de desenvolver competências e
habilidades indutoras de novas práticas educacionais e aprendizagem
articuladas, não só com os conteúdos curriculares, mas com a ciência e as
culturas dos povos num saber-fazer transversal e dialógico.
Nesse contexto, pautamos para
discussão o questionamento do professor e pesquisador Marcos Arruda, quando
formula a seguinte indagação: Por que é
tão importante transformar a educação do nosso país [ ...]?
O próprio pesquisador responde: “Porque
a educação é a pedra fundamental de um outro desenvolvimento. É da educação que
parte a construção de novos sujeitos sociais, e não só a perpetuação do sistema
dominante. Portanto, temos um projeto político de educação que não é o mesmo do
Banco Mundial. Como colocar na mesa de negociação com o governo brasileiro e
com o Banco Mundial essa outra abordagem e extrair dela uma reflexão sobre como
fazer a reforma da educação para atender ao objetivo de criar novos sujeitos
para um novo desenvolvimento do País? Isso é trazer a discussão do
desenvolvimento do eixo da globalização e dos agentes globais, que são os
atuais dirigentes do desenvolvimento mundial, para o eixo dos atores locai.
Acredito que há espaço para debater e negociar. Depende da nossa força, do
nosso poder de barganha.”(Ibidem, p.277-78).
Estabelecer diferença entre o que
queremos e o que nos é imposto é um excelente exercício de reflexão para se
avaliar nossas condições e disposição de luta para efetivação de nossas
propostas, deslocando dessa feita às discussões dos eixos para a problemática
local dando ênfase a situação da escola real numa perspectiva das garantias
educacionais a começar pelas condições materiais da escola; transporte e merenda
escolar; condições de trabalho digno; plano de cargos, carreiras e salários
justos, biblioteca e outras ferramentas de leitura e pesquisa; gestão
democrática e participativa; organização dos colegiados com a participação dos
estudantes, pais e mães de alunos; programa de formação continuada dos
professores; análise e avaliação do projeto político pedagógico da escola
fundamentado no desenvolvimento da vida familiar, nas relações sociais, no
trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e
organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.
É sabido “que a política não é o
céu, mas sem ela estaríamos todos no inferno.” Por isso, cada agente da
comunidade (Escola, Família, Estado e Sociedade) deve se empenhar na discussão
dos seus problemas acompanhado de suas soluções. Esta iniciativa deve partir do
gestor e dos colegiados da escola tendo por base os seguintes eixos: O plano
nacional de educação e o sistema nacional de educação: organização e regulação;
Educação e diversidade: justiça social, inclusão e direitos humanos; Educação,
trabalho e desenvolvimento sustentável: cultura, ciência, tecnologia, saúde,
meio ambiente; Qualidade da educação: Democratização do acesso, permanência,
avaliação, condições de participação e aprendizagem; Gestão democrática,
participação popular e controle social; Valorização dos profissionais da
educação, formação, remuneração, carreira e condições de trabalho e o
Financiamento da educação gestão, transferência e controle social dos recursos.
Em suma, os especialistas afirmam
que para se ter clareza do que cada Ente Federado deve fazer na educação básica
devemos nos voltar para distribuição dos recursos entre os três níveis de
governo, matéria que vem sendo discutida há pelo menos duas décadas em projetos
de Reforma Tributária e até a presente data nada, absolutamente nada, foi
definido. O fato é que a União fica com 57% do total arrecadado no país, bem
como 25% com os estados e 18% com os municípios, sendo que a União destina
apenas 20% enquanto os estados destinam 41% e os municípios 39%. In: Revista em
Discussão (ano 4- n. 14, de fevereiro de 2013, do senado federal, p.75).
Para encerrar esses apontamentos
preliminares, pensando, sobretudo, nos trabalhadores da educação do interior do
Amazonas, com objetivo de subsidiar os debates locais, remetemos a discussão da
educação para o campo das Questões Sociais tão bem trabalhada pela economia
como também pela sociologia política. E para demarcar nosso posicionamento
contrário ao “novo padrão de acumulação” do capitalismo que reduz a escola numa
empresa capaz de treinar pessoas para o mercado de trabalho coisificando sua
existência como também sua espiritualidade. No entanto, a educação que queremos
é proativa visa à construção de um novo sujeito social capaz de combater a
pobreza que resulta da exploração, acumulação e da desigualdade social,
privando as pessoas do acesso à cultura, a ciência, as artes e a beleza. A
pobreza, segundo Hannah Arendt, é uma força desumanizadora; é abjeta, porque
submete os homens ao império absoluto de seus corpos, isto é, ao império
absoluto da necessidade. O desenvolvimento que queremos tem na educação sua
matriz como prática libertadora focada na valorização do meio ambiente, na
ciência, na cultura, no saber centrado na sustentabilidade dos povos.
TOMMASI, Lívia De; WARD, Mirian J; HADAD, S. (organizadores). O Banco Mundial e as políticas educacionais. 2 ed. São Paulo: Cortez, 1998.
ARENDT, H. Da Revolução. São Paulo: Editora Ática; Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1988. Em Discussão. Revista de Audiência Pública do Senado Federal. Ano 4 nº 14 - fevereiro, 2013.
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