Fonte: Amazonas Atual
Em geral uso
este espaço para falar de alguns aspectos do mundo da educação. Durante estes
pouco mais de dois meses tenho chamado atenção para questões, como avaliação,
disciplina, envolvimento da família, gestão para resultados e atuação docente.
É claro que
para abordar estes temas foi sempre importante fazer um aprofundamento teórico.
Algo necessário para dar ao leitor uma informação qualificada, essencial para a
formação de um ponto de vista embasado e, portanto, crítico.
Mas hoje
venho aqui tratar de um assunto que à primeira vista não parecerá ter a ver com
educação. Hoje gostaria de falar de afetividade. Um tema que vem ganhando
espaço, mas que durante muito tempo foi colocado na periferia da discussão dos
processos de ensino-aprendizagem e, sendo assim, tem permanecido do lado de
fora de muitas salas de aula.
Este
afastamento deve-se muito ao “paradigma cartesiano”, que se encarregou desde o
Século 17 em fazer uma separação entre razão e emoção,
concebendo assim um modelo dualista, no qual o homem deve ter atitudes
predominantemente racionais e raramente emotivas.
Perspectivas
como essa (dualista) ignoram que razão e emoção estão intimamente ligadas,
integradas em um único ser, que desenvolve seu lado racional a partir das
emoções e que ao mesmo tempo possui emoções que emergem da razão.
O Físico
Fritijoff Capra, em seu livro “Ponto de mutação”, já alertava desde a década de
1980 para o risco dessa separação, e do quanto seria importante promovermos a
reconciliação destas duas dimensões do ser humano.
Na educação,
percebe-se claramente o status superior que o conhecimento técnico
ganhou em detrimento da afetividade. Assim, professores preocupam-se em ensinar
da mesma maneira como foram ensinados, entendendo que uma boa educação deve ser
abrangente, profunda e impessoal.
Neste
contexto, amor, carinho, solidariedade, compaixão, fraternidade, ciúme, inveja,
raiva e outros sentimentos de mesma natureza são temas pouco abordados em sala
de aula, talvez porque não sejam encarados como uma discussão relevante. Desta
forma, acabam restringindo-se quase sempre as aulas de Literatura, mais como
elementos de identificação da obra de um autor do que como ferramenta para o
exercício do autoconhecimento dos alunos.
E assim
vamos formando “brutos bem sabidos”, pessoas que possuem algum conhecimento
técnico, mas que são insensíveis no trato com os outros, incapazes de enxergar
além de si e dos seus interesses. Seres indiferentes ao que os outros sentem.
Por vezes cruéis, alheios ao que podem causar nos outros com suas palavras e
atitudes.
E antes que
alguém imagine que falo dos psicopatas ou dos Serial Killers dos filmes
e novelas, alerto que estou chamando atenção para a formação que hoje recebe o
homem tido como normal, aquele aparentemente sem nenhuma patologia psíquica
dessas: é o engenheiro, o médico, o gerente de banco, o jornalista, o
professor. Enfim, somos todos nós.
É nesta
vacância deixada pela falta de afetividade na educação que se desenvolvem
algumas das mazelas morais que vemos hoje, como a falta de respeito com os
pais, a violência com os professores, a agressão aos idosos, o maltrato com os
animais, a intolerância e o preconceito.
Contudo, é
necessário que se entenda que uma educação com afetividade não é aquela que se
torna permissiva para com o educando, onde ele tudo pode em nome do “carinho”
que se deve ter com ele. Isto, pelo contrário, é qualquer coisa, menos
educação.
A
afetividade deve estar presente nas relações, nas discussões e, por que não,
até nos conteúdos ministrados. Para servir como referência na formação de
juízos de valor e interpretação do mundo. Deve-se usá-la para a compreensão dos
limites que devemos ter, do respeito para com o outro que deve estar presente
em nossas atitudes, no entendimento do valor da vida humana e na aceitação da
diversidade.
Talvez este
seja o caminho para um mundo menos cruel, em que a emoção e o sentimento tenham
a mesma importância que a razão, em que as pessoas tenham mais importância que
os objetos, e consequentemente o ser seja mais importante que o ter.
George Castro é supervisor do
Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio;
diretor
executivo da Macedo de Castro consultoria educacional; ex-professor da
Universidade
Federal
do Pará e ex-diretor do ensino médio e educação profissional do estado do Pará.
Contato: george@macedodecastro.com
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