“TROCA-SE
VOTO POR ASFALTO”
De imediato pode parecer condenável à manifestação
pública dos comunitários quanto à oferta do voto. Contudo, o fato se faz
orientar pela defesa da coisa pública, em atenção às reivindicações dos
moradores, exigindo que se cumpra com as obrigações legais e legítimas advindas
dos próprios governantes e de seus Agentes.
Ademir Ramos (*)
De vez em quando somos surpreendidos com esta máxima
nas ruas de Manaus, reclamando providencias imediatas na pavimentação das ruas,
com sarjetas, esgotos e calçadas. Os apelos dos moradores são recorrentes, mas
pouco ou quase nada é feito para sanear os problemas que afligem a todos os
moradores, que além do asfalto, exigem ser tratados com dignidade e respeito.
Sabe-se que a troca do voto por algum bem ou serviço é crime, no entanto, esses
moradores não suportando mais o abandono e o descaso dos Agentes públicos
expressam a sua vontade de forma anônima, condicionando o voto às obras e
demais políticas públicas.
De imediato pode parecer condenável à manifestação
pública dos comunitários quanto à oferta do voto. Contudo, o fato se faz
orientar pela defesa da coisa pública, em atenção às reivindicações dos
moradores, exigindo que se cumpra com as obrigações legais e legítimas advindas
dos próprios governantes e de seus Agentes. A grita dos moradores denuncia
também o quanto os governantes e políticos não cuidam da cidade como um todo,
quando muito procuram realizar alguma obra em determinadas áreas estratégicas
para cumprir tabela e pousar de Prefeito ou Governador.
O dever do voto a ser consagrado nas urnas é
expressão da consciência prática do cidadão, que reclama dos políticos o
reconhecimento dos direitos coletivos - educação, saúde, segurança, habitação,
saneamento, infraestrutura, lazer, esporte, cultura, meio ambiente saudável,
transporte, empregabilidade, entre outros. A realização dessas políticas de
forma satisfatória, não só atende as exigências materiais, como também
reconforta a pessoa, propiciando um verdadeiro enlace afetivo entre o político
e o eleitor, resgatando, dessa feita, a credibilidade e a confiança no
governante.
Confiança e credibilidade são valores que devem
orientar a consciência prática do voto do cidadão. São as exigências que
fazemos antes, muito antes do ato de votar. Confiança significa reconhecer no
outro, a capacidade e competência para operar determinado projeto político sob
o controle das forças populares.
A credibilidade, por sua vez, é a
condição necessária para devotar no outro a confiança do voto, sabendo que ele
é capaz de cumprir com o dever de respeitar a coisa pública e criar condições
para que todos possam usufruir de forma responsável.
Para isso, é preciso avaliar e examinar bem a ficha
do candidato, principalmente, se ele já exerceu algum mandato popular. Procurar
saber o que ele fez como se comportou e quais foram seus projetos. A partir
desse levantamento pode-se devotar confiança ou não as suas propostas. Se o
candidato não lhe dá respeito e não orienta o seu mandato para o interesse
público, promovendo o bem-estar político e social do seu povo, não deve merecer
o voto da consciência prática do cidadão.
Ademais, é necessário analisar também se as
práticas desses candidatos contribuíram de forma direta ou indireta para o
fortalecimento da cidadania plena, consagrada na participação e controle
social. Do mesmo modo, deve-se julgar o candidato pela aplicação do recurso
público, com transparência e responsabilidade, examinando se os seus atos não
contrariam a vontade popular, em favor de grupos ou corporações privadas.
Se assim for deve-se condenar nas urnas esses
candidatos, votando pela sua reprovação e desmoralização pública. Enquanto isso
é nosso dever votar nos candidatos responsáveis que buscam celebrar com o nosso
povo a confiança e a credibilidade, na perspectiva de garantir a vontade da
maioria e a defesa dos valores republicanos visando assim, o bem-estar de nosso
povo, particularmente, daqueles que gritam por justiça social.
(*) É professor, antropólogo e coordenador do
NCPAM/UFAM.