Dos trinta anos de carreira
artística do Celdo Braga, 25 foi ao lado do grupo Raízes Caboclas e cinco
compondo “música orgânica” ao lado do grupo Imbaúba.
Ellza Souza
(*)
Na sexta-feira (23) à noite fui ao Teatro Amazonas. E fui comemorar com
um público que lotou o teatro, os trinta anos de um poeta. Muita gente ficou de
fora, reclamou e saiu chateado mas recebeu um pedido de desculpa e promessa de
mais música e poesia pela frente. Dos trinta anos de carreira artística do
Celdo Braga, músico, professor, empreendedor, cantor e principalmente poeta
pois tudo que fala transforma em beleza, em harmonia, em poesia, 25 foi ao lado
do grupo Raízes Caboclas e cinco compondo “música orgânica” ao lado do grupo
Imbaúba.
A parceria
do Celdo com o Imbaúba é um trabalho inovador. A sonoridade empregada nos
poemas remete aos ouvintes e encanta. O show já começou com um barulhinho de
água e falando de rio, canoa e floresta. Depois vieram outras belas citações de
passarinho, boto sonso, pérola azulada. Me senti em casa como qualquer
amazônida e naquele momento amei mais ainda a minha terra e rezei para que
aquelas palavras fizessem eco na mente das pessoas principalmente em relação a
poluição dos nossos igarapés.
Fiquei
encantada com o cenário e lembrei da festa dos 20 anos, ali mesmo, quando o
palco foi bem mais decorado. Agora valeu a simplicidade da competência, da
maturidade, do envolvimento. Apenas um fundo preto onde se destacava um grande
paneiro pendurado. Foi a primeira coisa que notei quando abriram as cortinas.
Nada de efeitos visuais apenas poesia, poesia e mais poesia, acompanhada dos
músicos, cantores e percussão. E isso foi marcante na noite de aniversário,
para mim e toda a platéia que não paravam de aplaudir e se encantar.
Não vou
citar nomes mas todos os que estiveram no palco foram vitais na composição do
espetáculo. Todos sem tirar nem por como dizia a minha avó. Vozes lindas
entoaram verdadeiros hinos à natureza, cantando e recitando beleza e harmonia.
Um grupo de alunos jovens fez sua homenagem teatralizando e dançando ao rebojo
da música, no banzeiro da melodia. Às vezes eu fechava os olhos e me deixava
envolver por aqueles sons e palavras. Me sentia num mundo que poderia ser real.
Imaginava cenas do rio escorrendo, a árvore crescendo, o rouxinol assobiando, o
chap chap na canoa, os igarapés de Manaus todos vivinhos e limpos.
Não é fácil
ser um artista assim. Primeiro tem que ter o talento, a vocação, o carisma e
depois a determinação de aproveitar o primeiro empurrão dado pelo Negão lá na
longínqua Benjamim Constant. E pesquisar muito. O amigo sanhaçu veio de longe
abrir o espetáculo com palavras como sempre bem ditas de amizade, sinceridade e
meiguice.
Para
encerrar nada mais emocionante do que a entrada do grupo Raízes Caboclas e num
gesto de união como demonstrava o paneiro ali colocado, cantaram juntos como
irmãos que sempre foram. Músicas antigas fizeram da noite um momento
inesquecível na minha vida. Também não sei os nomes mas o que importa é que saí
dali com mais uma lição de vida e de amor proferida na canção: “A lição que o
paneiro ensina como é bela a união”. E todos cantaram despertando paz, amizade
e orgulho de sermos cabocos sempre e cada vez mais. Parabéns a todos que se
apresentaram nessa noite. Parabéns ao Raízes, sempre Caboclas.
Parabéns ao Imbaúba. Parabéns ao Celdo Braga. Parabéns à vida. Parabéns à
natureza.
(*) É escritora, jornalista e articulista do
NCPAM/UFAM.
Postado por NCPAM às 11:07:00 Nenhum comentário:
Nenhum comentário:
Postar um comentário