Ademir Ramos (*)
A secretária de Estado
para os povos indígenas do Amazonas estará realizando na próxima quinta (31) e
sexta-feira (1), a partir das 9h, no SINDIPETRO, na Rua Bernardo Ramos, 179, no
Centro Histórico de Manaus, um Seminário sobre “os novos caminhos para
consolidar as políticas afirmativas dos povos indígenas do Amazonas –
possibilidades de praticar os conhecimentos, garantindo igualdade de
oportunidade.” O evento prossegue o dia todo na quinta-feira, com duas mesas de
discussão; a primeira “possibilidade de praticar os conhecimentos garantindo a
igualdade de oportunidade”, a segunda proferida por mim diz respeito à
“universidade enquanto espaço de formação qualificada e os povos indígenas a
partir da realidade acadêmica exercida nos últimos anos,” na sexta-feira,
somente pela parte da manhã, farão apresentação dos resultados e a leitura do
documento final. Para o momento desenhei algumas notas, com propósito de
ampliar a discussão e fortalecer as organizações de base, então vejamos:
A universidade é um
território em disputa sob o controle do Estado, que por sua vez institui
critérios de classe a favorecer o acesso e a permanência dos candidatos nas
estruturas acadêmicas em consonância com a lógica do poder instituído, em
sincronia com Brasília ou com os governos dos entes federados, que são os
detentores dos recursos orçamentários de natureza impositiva, minimizando a
autonomia acadêmica lavrada na Constituição Federal tão reivindicado pelos
Movimentos Estudantis e Docentes. Nesta circunstancia seus dirigentes zelam
muito mais pela estrutura funcional do que pelo processo criativo formador.
Esta reprodução lógica do poder perpassa pela formação do professor que
reproduz determinados ritos de seus orientadores (formadores) assentados no
status da carreira acadêmica e dos interesses particulares de grupos
encastelados nos Departamentos e Institutos de pesquisa e outros centros de
formação.
No campo da ciência e da
tecnologia o Estado orienta sua formação para o mercado produtor, em resposta
as demandas reclamadas pela indústria e demais segmentos produtivos como se
fosse uma reposição de peças necessárias para o funcionamento da engrenagem em
processo. A produção de tecnologia requer investimento na ciência, na pesquisa,
no aparelhamento de laboratórios com corpo técnico qualificado para criar e
desenvolver processos e não somente o manuseio operacional dos equipamentos.
Registra-se aqui o investimento que a própria empresa, no caso a Petrobras faz
junto a sua estrutura para obter o grau de excelência, bem como outros centros
de excelência, contando com apoio de empresa privadas e de agências
internacionais, que usam as Universidades e os Institutos de Pesquisa no Brasil
e nos Países subalternos como “barriga de aluguel”, expropriando conhecimento e
formas de saber.
Neste contexto, a Universidade pouco ou quase
nada tem contribuído para produção da ciência e as estruturas do pensamento
quanto à concepção e transformação do mundo e da conjuntura em questão. Se isto
for verdade, o padrão universitário de hoje é similar à cultura dos bacharéis
caracterizada por uma cultura geral, uma retórica refinada com status de doutor
e pose professoral, de pouca valia para as mudanças sociais, mas de muito valor
para a manutenção e permanência do status quo.
Relativo à formação
acadêmica dos indígenas nesse processo, o diferencial pode está no acesso por
via de cotas, bolsas ou outra forma de concessão que favoreça a inclusão desses
agentes nas estruturas acadêmicas. Às vezes necessárias para dar legitimidade a
políticas indigenistas, assim como também na instrumentalização das políticas
indígenas, em defesa de suas garantias comunais nas lutas do movimento e das
organizações indígenas.
Contudo, esta
determinação do sujeito que opera em favor do seu povo, não resulta da formação
das academias, mas, sobretudo, da formação política adquirida no curso das
lutas sociais e, em particular do movimento indígena.
Digo isto, para reafirmar
a importância da formação política comunal, étnica, sindical, familiar, que
antecede a formação profissional acadêmica, não havendo esta plataforma, o
compromisso dos atores às vezes é ofuscado pelo carreirismo, preciosismo
acadêmico com tempero dos cacoetes dos bacharéis seguindo a lógica do
individualismo, da acumulação e do consumismo voraz. Com a palavra os próprios
indígenas e suas organizações.
(*) É professor,
antropólogo, coordenador do Jaraqui e do NCPAM/UFAM.
Nenhum comentário:
Postar um comentário