O nosso amigo Miguel Chaves, de Óbidos (PA),
que faleceu em outubro do ano passado, deixou um pedido para seus amigos que
seu corpo fosse cremado e que, durante o Carnapauxis, todos seus amigos,
deveriam se reunir na Praça do ‘O’ e
sair em cortejo, levando suas cinzas até a Serra da Escama, onde deveria ser
espalhada no pé da serra.
Para aqueles que não o conheceram o Miguel, pode
parecer um pouco excêntrico, mas nosso amigo era um misto de boêmio, militante político
e poeta. Mesmo com a dificuldade de logística, seus contemporâneos não mediram
esforços para atender seu último pedido. Talvez esta tenha sido a forma de o
nosso amigo, demonstrar seu amor por Óbidos, mesmo depois da morte.
Depois que encerramos as homenagens a Miguel,
decidi então voltar à Praça do ‘O’, local onde se reunia a nossa turma de
moleques composta por Miguel Chaves, Paulo Onofre (Calango), Eduardo, Otávio,
Burucão, Botto, Tá Porre, Morceguinho, Aluisio e outros. Essa era a turma que
todos os finais de tarde se reunia em frente à casa do seu Xarupi, para o bate
bola. Isso acontecia em meados da década de sessenta. Meu Deus! Agora me dei
conta de que, daqui a dois anos, vai fazer cinquenta anos que isto acontecia.
Entre uma cerveja e outra, olhando para a
Serra da Escama, as lembranças de minha infância afloravam. Lembrei de amigos
que há décadas não encontro, mas que nem o tempo e a distância foi suficiente
para esquecê-los. Durante algumas horas, parece que fiquei um pouco fora de órbita,
absorto às lembranças, sem menos perceber que as horas tinham se passado.
É chegada a hora de retornar a Manaus. Tive
que sair do local às pressas para não perder o barco. À bordo, já instalado em
uma rede, balbuciei esta frase: “Saí de Óbidos, mas Óbidos não saiu de mim”.
No próximo ano voltarei para o Carnapauxis. Desta
vez vou levar toda a família, para que ela - como diz o poeta – conhecer “o meu
pequenino Mirai”, nesse caso, a minha pequenina Óbidos. (Por: Paulo Onofre).
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